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A Aldeia Natal da Estrela

Quer assumir-se como a Aldeia Natal!

É pitoresca, serrana e com um ambiente invernal que nos leva Às longas noites de inverno à lareira na companhia de quem mais gostamos e de uma bebida quente, onde se contam histórias e se vive o espírito de comunidade.

Falamos da Aldeia de Cabeça, em Seia, em plena Serra da Estrela. Aqui o frio do inverno complementa a paisagem e onde, por esta altura, todos se juntam para criar um espaço cheio de magia natalícia, com decorações originais, luzes e cantares que ecoam pelas ruas, tornando esta a Aldeia Natal em nome e em espírito.

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Por cá já se assume como traição. Todos rumam ao encontro deste pequeno lugar cheio de magia e delicadeza. Aqui somos recebidos com um sorriso fraterno e onde os olhos e o coração sentem o verdadeiro espírito da época. Não há porta ou alpendre que não nos remeta ao Natal serrano e daqui não quereremos sair.

O programa estende-se entre os dias 8 de dezembro e 6 de janeiro. Um mês onde as atividades são muitas e os motivos ainda maiores para se visitar esta aldeia.

 

O espírito do Natal

O convite é lançado a todos os que queiram descobrir um Natal verdadeiro e genuíno, inspirado no que de melhor a Montanha tem: as pessoas e a natureza.

As ruas enfeitadas e os inúmeros cenários natalícios revelam o espírito de natal singular e singelo que por aqui se vive!

Passeie pelas ruas da aldeia e encontre o Mercado de Natal, Presépios, a Casa do Pastor, a Casa do Chocolate, oficinas de cozinha e participe nos passeios temáticos pela aldeia. Na oficina de Natal onde poderá comprar o pinheiro e outras decorações de natal criadas por mãos hábeis de quem nesta aldeia vive.

Esta é uma iniciativa que acontece desde 2013 e tem vindo a ganhar contornos cada vez maiores, tornando a aldeia de Cabeça um dos lugares a visitar na época natalícia se vem visitar a região.

As decorações da aldeia são inspiradas no natal serrano e na natureza, com todas as pessoas que aqui vivem a abraçarem esta iniciativa e contribuindo para que seja tão especial. Os populares recorrem a materiais provenientes da natureza, com total respeito pela mesma. A cor é dada pela lã da Serra da Estrela cedida pelas diversas empresas têxteis da região.

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O que fazer?

Durante cerca de um mês a Aldeia Natal, Cabeça, terá um programa de animação dedicado ao Natal com várias atividades que o farão querer visitar a Aldeia muitas vezes.

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Os destaques da HeartBeat vão para o concerto de Natal com o Grupo Balancé da Cabeça, logo no primeiro dia. No dia 10 abre o Mercado de Natal e aproveite para ficar a saber como se coze pão no Forno da Aldeia! No dia 12 participe no passeio de Montanha “Rota dos Socalcos”. No dia 13 deixe-se encantar com o Concerto de Natal pelo Coro das Pequenas Vozes da Figueira da Foz, e com o desfile de moda em Burel “Um Tecido que conta histórias”. No dia 31 a passagem de Ano é feita com tradição.

Mas há muito, muito mais para ver, cheirar e sentir em Cabeça, a Aldeia Natal da Serra da Estrela. Conheça o programa completo em www.cabecaaldeianatal.pt.

O Natal na região:

https://heartbeat.pt/natal-animado-regiao/

Fotografia: Paulo Mendonça, DL Photography

A medieval protetora das Beiras

Conheci-te em dia de festa, com as ruas cheias de gente, num reboliço de tempos de outrora quando eras um centro de frenesim comercial com as tuas Feiras Francas.

Lembro-me de quando te vi pela primeira vez, Castelo Mendo, no alto da tua colina, como um soldado que vigia as suas gentes, protegendo-as de um inimigo que já não existe mas que te tornou fortaleza.

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Caminhámos para a tua entrada protegida por dois soldados imponentes que guardam as tuas entranhas. Pela porta estreita entrámos e seguimos pelas tuas ruas de pedra vestidas, num casario arregimentado que me deixou deslumbrada, com gentes vestidas de época medieval que nos acompanhavam e apresentavam os seus produtos.

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És Castelo Mendo, no alto da tua colina, seguimos até ao teu topo, subidas algumas escadas encontrámos, magoada pelo tempo, mas estoica, a Igreja de Stª Maria do Castelo, lá dentro vestígios do passado, com a sua pia batismal e o altar ao fundo.

Conseguimos, se quisermos, ouvir os cânticos das cerimónias que por aqui passaram, as suplicas a deus das mães e mulheres de soldados que combatiam nestas terras pela proteção do reino, o choro sufocado de donzelas que rogavam à mãe de Cristo para que os seus amados regressassem para que lhes devolvessem aquele beijo roubado.

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Ruinas que no final de um dia de sol se vestem de dourado antecipando, aos visitantes, a majestosa paisagem que os espera quando atravessarem a Porta do Castelinho, no topo sul da cidadela. Uma porta que, outrora, dava acesso ao núcleo mais antigo do Castelo, de características românticas e acompanhado de uma ou outra oliveira, árvore que por aqui é comum.

Passados pela porta, caminhamos mais um pouco e o que nos espera é de cortar a respiração.

Uma paisagem que se estende até Espanha, e nós cá no alto, num misto de imponência e pequenez, assoberbados com tamanha beleza. Aqui estamos no inicio do mundo, à nossa frente estende-se a Europa. Imaginamos o borburinho de homens medievais quando o inimigo estava no seu encalce, lá em baixo.

Acordo desta viagem no tempo, pelo pensamento e pela imaginação, com pregões de atores que correm pela envolvente da Igreja. Estamos em plena Feira Medieval e, este ano, o sol fez-nos companhia, é Primavera, estamos em abril e tudo à nossa volta ganha vida.

Hoje Castelo Mendo recupera as memórias de outrora, enche-se de gente e de vida, música, cor e pregões. Amanhã voltará ao silencio , esperando que os seus regressem no verão para que as ruas voltem a cantar.

Castelo Mendo faz parte do concelho de Almeida e integra as Aldeias Históricas.

Na fronteira com Espanha este foi um dos principais pontos de vigia e defesa da nação, história que lhe está impressa nas pedras que ladeiam as ruas e as casas. Tal como nas outras aldeias históricas, Castelo Mendo está envolta em mistério, numa beleza hipnótica que nos faz curvar aos seus fantasmas.

O dia terminou, de Espanha vinha o céu negro que ameaçava ruir sobre nós, fomos embora. Para trás ficava a Festa maior de Castelo Mendo. Voltarei outro dia.

 

Tânia Fernandes

Pelas Rotas das Aldeias de Montanha

Para os amantes das caminhadas e da natureza sugerimos, hoje, um conjunto de rotas muito especial, que o levará a conhecer algumas das mais belas aldeias da Serra da Estrela, em percursos de fazer parar a respiração, e não (apenas) por cansaço ou pela altitude!

Nas Rotas das Aldeias de Montanha encontrará 14 percursos num total de cerca de 100km, abrangendo o território das Aldeias de Montanha.

A Rota da Ribeira do Piódão em Vide.

A Rota da Ribeira de Loriga que abrange as localidades de Loriga, Vide e Cabeça.

Ainda por lados de Cabeça encontra a Rota dos Socalcos.

Em Loriga poderá encontrar a Rota da Eira e Rota da Garganta de Loriga.

Por lados de Teixeira existe a Rota da Missa.

Em Sazes da Beira pode seguir a Rota do Volfrâmio.

A Rota das Minas do Círio começa em Valezim.

Há ainda a Rota da Caniça em Lapa dos Dinheiros.

Em terras de Sabugueiro existem as Rotas do Vale do Rossim e a Rota da Fervença.

Em Alvoco da Serra e Vide encontra.

Ainda a Rota da Ribeira de Alvoco.

Em terras de Alvoco da Serra pode optar pelas Rotas das Canadas e Pastoreio.

Claro que cada Rota tem as suas especificidades e grau de dificuldade, por exemplo, as mais difíceis são as Rotas da Garganta de Loriga, da Ribeira de Loriga, do Pastoreio e a Rota da Ribeira de Alvoco.

Se for um caminhante que gosta de um desafio mas não dispensa apreciar a paisagem sem grandes esforços físicos, tem para si as Rotas de dificuldade média. Falo das Rotas das Minas do Círio, da Caniça, Canadas, Fervença e Rota de Vale de Rossim. Para aqueles que não querem grandes dificuldades nas suas caminhadas há as Rotas de dificuldade fraca como as Rotas da Eira, Socalcos, Missa e Rota do Volfrâmio.

Estas Rotas (que pode consultar em pormenor no site do município de Seia) são uma ótima oportunidade para conhecer a riqueza natural e cultural das paisagens e das comunidades das aldeias.

A Serra da Estrela é muito mais que neve, muito mais que um destino de Inverno sendo capaz de oferecer a quem a visitar, autênticos tesouros, raros no país. Os caminhantes são desportistas que entendem o valor da paisagem na prática destas atividades e mais do que praticar desporto, o pedestrianismo é um instrumento de interpretação e conservação da paisagem, representando um produto estratégico de promoção do território junto de um público muito especifico e que se encontra em grande expansão.

Calçe as sapatilhas e venha conhecer esta Rota das Aldeias de Montanha, uma forma especial de aliar a saúde e o bem-estar ao turismo, com certeza saíra daqui mais saudável e com mais histórias para contar e memórias para guardar!

 

 

Elevemos as Festas da Aldeia a Património Cultural!

Ser português é muita coisa. É ser hospitaleiro. Acreditar que somos os melhores do mundo e os piores também.

É defender o que é nosso com unhas e dentes porque as únicas pessoas que se podem queixar do que é português somos apenas nós, os portugueses.

Ser português é rilhar tremoços e beber uma cerveja numa esplanada num dia de verão. É juntar a família toda em piquenique, num qualquer parque deste país e acabar o dia com mais três famílias à mistura que por ali passaram e se juntaram. Ser português é viver numa eterna saudade, é ter um sorriso humilde e, mesmo na maior das pobrezas, tirarmos o casaco porque o vizinho está com frio.

É no verão que o que de mais português há em nós se revela.

São as nossas tradições e culturas que na época estival se manifestam com maior fervor. Porque é que esperamos ansiosamente pelo verão, e porque é que esta época é tão importante para os portugueses? Porque é nesta altura que o país se enche de vida. É no verão que abrimos os braços para receber quem está longe.

Não há noite de verão em que não haja um bailarico por aqui perto. Há sempre festa numa aldeia. É luz, cor, música e comida, muita comida, porque ser-se português é também saber comer bem.

Para os portugueses, principalmente nestas regiões do interior, o verão é o renascer, como se fossemos uma espécie de borboleta presa num casulo que espera pelo estio para abrir as suas asas e revelar as suas verdadeiras cores.

O verão é mais do que calor, é o renascer das nossas terras que, durante os meses de inverno, ficam quedas à espera que a luz do sol lhes desperte a alma e lhes devolva os filhos.

A Festa da Aldeia é mais do que uma banda no palco ou uma procissão no adro da igreja. É mais que luzes e pés de dança. É reencontro, lágrimas de alegria, abraços apertados e risos de pura felicidade. Vai muito além da tradição religiosa ou da pagã. É reunião. Reencontro de amigos e familiares. É a união de gerações e a partilha de felicidade.

Num bailarico de verão não se pensa em trabalho nem em tristezas. Não há doenças e a política é tabu. Num bailarico de verão comemora-se a vida, trocam-se olhares e investe-se em namoricos, não há novos nem velhos, há gente, e isso é o mais importante. Celebra-se o frango assado e a bifana, o vinho e a cerveja e agradece-se ao nosso santo do coração ter-nos dado mais um ano para voltarmos ao nosso ninho.

A Festa da Aldeia é mais que uma celebração e mesmo que, para muitos, seja uma festa popular, a sua essência vai muito além disso, alma que se sente mais quando estamos numa aldeia do interior.

No verão a população triplica e, normalmente, os filhos da terra voltam para a festa da aldeia, porque é nessa altura que todos se reúnem.

O bailarico de verão é mais do que uma festa. É o almoço em família. É ajoelhar na igreja e chorar porque conseguimos cá voltar. É segurar, com orgulho acrescido o andor, porque é uma honra levar nos ombros o nosso santo e o peso do seu significado.

É ouvir a banda marcar os passos na procissão.

É verificar que a nossa avó tem mais rugas e constatar que nunca foi mais linda do que agora. O bailarico da aldeia é música até o sol nascer, interrompida pelo sino da igreja que anuncia a primeira procissão do dia. É comprar rifas porque a bicicleta tem de ir para o meu Miguel. É o melhor fogo de artifício do mundo porque, nestes três dias, o mundo resume-se à nossa aldeia.

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No final o adro fica vazio de gente. A música acaba. As férias entram na sua fase final e o mundo real e cinzento começa a chamar por nós. Para o ano há mais e cá estaremos para fazer o tempo parar durante três ou quatro dias.

A Festa da Aldeia é algo tão português que devia ser elevado a Património Cultural da Humanidade.

É tão Português como o Fado ou como o Canto Alentejano. E mesmo aqueles que dizem não gostar acabam por ser vistos por lá, a dar um pé de dança como se aquele fosse o melhor espetáculo do mundo e, cá entre nós que ninguém nos ouve, é não é?

Marialva, a Alva das Beiras  

Envolve-te como um presente este branco nevoeiro, abraçando-te nesta fresca manhã.

Anseias pelo sol que te aquecerá as pedras e te encherá de luz. Pelas tuas ruas caminham em passos modestos, corpos que o tempo envelhece, cheios de uma alma de criança, por vezes cansados das lides da serrania, por vezes felizes porque a vida existe e porque o sol nasceu após a noite escura. A teus pés os campos com oliveiras de onde brota esse ouro liquido que nos enche de sabor as delicias que, com as mãos desta terra, são criadas para deleite de quem te visita Marialva.

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O sol desponta, por entre o rendilhado das tuas pedras e a luz assume o seu poder, e tu, qual Maria destas Beiras, enches-te de uma luz alva que ilumina a terra como se fosses um farol.

És Marialva e és misteriosa como uma ninfa.

Quem visita esta aldeia entra num mundo onde o tempo parece quedo, onde o mundo não entra e onde podemos respirar. É avassalador passear pelas tuas ruínas cheias de histórias para contar. Fecho os olhos e consigo ouvir as pessoas de outrora a correrem pelas ruas, os pregões, os gritos de vida que te preencheram e faziam de ti uma das mais importantes vilas da região, tão antiga que ainda anão foi datado o teu nascimento.

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No alto o teu castelo ergue-se imponente, sentinela do vale, protetor das suas gentes, aos seus pés as muralhas ovaladas abraçam a cidadela, e aqui o teu povo sentia-se seguro. Tens igrejas, capelas, cantos e recantos que encantam quem te visita. Mas tens mais, muito mais.

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Marialva tem alojamento de qualidade, gastronomia de perder a noção do tempo e paisagens de arrancar o fôlego, e se outrora foi um dos principais pontos de estratégia de defesa da nação, hoje integra o grupo de Aldeias que faz parte do núcleo das Aldeias Históricas.

Marialva, no concelho de Mêda, deve ser visitada, apreciada, cheirada e vivida, seja em que época for.

No Inverno o frio envolve as suas terras e oferece-nos o aconchego de uma casa quente e uma bebida reconfortante, mesmo o ar gélido nos desperta a alma e os sentidos. Na Primavera o bailar das cores no vale são uma tela pintada pelas mãos da natureza. No verão as noites quentes convidam a longas conversas numa varanda. E no Outono o vale enche-se de bronze e pinceladas de castanho, ocre e vermelho.

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Marialva quer gente e merece ser visitada, seja pelo seu castelo, pela sua muralha, pelas casas pintadas de branco ou pelas paisagens que se estendem até onde o olhar já não alcança. Visite. Viva. Vale a pena!

Fotografia: Aldeias Históricas de Portugal

Continue a viagem:

https://heartbeat.pt/linhares-beira/

 

Há arte urbana nas aldeias

Quem disse que a arte é para ser vista apenas nos núcleos urbanos?

Mesmo a dita arte urbana não se pode confinar apenas à urbe, deve ser livre e acessível a todos, ser integrada em contextos diversos e respirar!

Para os lados de Castelo Branco celebra-se esta ideia. As aldeias do Barbaído, Chão-da-vã, Freixal do Campo e Juncal do Campo, recebem nos dias 19, 20 e 21 de junho uma exposição de Arte Urbana, inserida no projeto de arte, comunidade e sustentabilidade “Aldeias Artísticas”, onde se procura explorar um novo modelo de desenvolvimento local através da fusão artística urbana com a rural.

“Aldeias Artísticas” acolhe trabalhos de diversos artistas de várias áreas transversais da arte como a arte urbana, ilustração, design gráfico, fotografia, artes performativas, entre outros, que estão em residência nas aldeias e produzem obras que nascem do seu contacto direto com o contexto envolvente, dando origem a uma identidade local única.

O projeto já envolveu 3 artistas urbanos que habitaram as aldeias e contactaram com o seu património, tradições e realidades, numa relação de aprendizagem e partilha.

Até ao festival acolherá mais 7 artistas.

Este projeto já desenvolveu workshops de fotografia que trouxeram cerca de 40 participantes de vários pontos do país às aldeias, numa perspectiva não apenas artística mas também de interação social com o meio e os seus.

O Festival “Aldeias Artísticas” quer ser, mais que uma exposição, um momento de celebração de todo o trabalho desenvolvido e uma oportunidade para as pessoas terem um contacto mais próximo com a iniciativa.

O projeto “Aldeias Artísticas” não tem fins lucrativos e é promovido pelas associações EcoGerminar e Terceira Pessoa, resultando da dinâmica comunitária do projeto “Há Festa no Campo”, uma iniciativa com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, e conta com diversos parceiros e apoio de associações locais.

 

 

Pelos olhos de Linhares da Beira

Majestoso no alto da sua colina, protege os vales aos seus pés.

O Mondego é seu aliado e mesmo que por estes lados os mouros já não façam tremer os seus súbditos, no seu trono há maravilhas que ninguém pode conquistar, apenas desfrutar, apreciar e preservar. Linhares da Beira é especial.

Aqui do alto o pôr do sol é um espetáculo que não se pode perder, e nas manhãs em que a neblina serpenteia lá em baixo, escondendo as povoações e transformando a paisagem num vasto lago intocável, neste trono podemos ser espetadores privilegiados.

Há quem venha até estas terras porque aqui podemos voar como os pássaros. Bem do alto da colina que se ergue atrás de nós. Saltado como águias de asas abertas, para um precipício etéreo que se estende até onde os olhos alcançam. Antes um campo de linho, hoje a Capital do Parapente.

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A história por estas terras é parte integrante da alma das suas gentes porque aqui o tempo parou.

As ruas de pedra contam histórias ao ritmo do nosso caminhar. Quando passeamos por elas, estreitas e misteriosas, sabemos que no final delas o vamos encontrar sumptuoso, ainda majestoso, o castelo de Linhares da Beira.

Linhares da Beira poderia ser como as outras Aldeias Históricas que existem na região da Serra da Estrela. Podia, mas não é. Linhares é misteriosa, queda no seu palrar, obriga-nos a procurar recantos, desvia-nos o olhar enquanto caminhamos, e mesmo que as casas nos pareçam iguais às outras, de tantas aldeias por esta serra, aqui, a cor é diferente. O cheiro e o cantar da água aguça-nos os sentidos e, nos dias gélidos do Inverno rigoroso da Serra, quase podemos ouvir o cantar de donzelas, batalhas milenares e reuniões de nobres senhores que viviam por esta terra que deve o seu nome ao Linho que aqui se cultivava.

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Terra de grandes batalhas que forjaram a nação, defensor dos seus e dos vizinhos.

Na Primavera Linhares da Beira convida pelas suas paisagens. Aqui é possível provar algumas iguarias beirãs e, aqui nesta pequena aldeia, podemos encontrar um dos melhores restaurantes da região, o Cova da Loba onde os sabores tradicionais são apresentados numa ode moderna à gastronomia.

Em Linhares ande a pé. Deixe-se perder, porque a certeza é que se encontrará, seja nas pedras da calçada, seja na água, seja no granito omnipresente, ou no Castelo assente no rochedo, ou na paisagem que se vai alongar a seus pés. Percebe-se porque foi escolhido este pedaço de mundo por tantos povos e cobiçado por tantos outros, aqui a nação estende-se até onde os olhos não conseguem alcançar mais!

 

Fotografia: Aldeias Históricas, Clube Vertical

 

 

 

Castelo Rodrigo, a aldeia dourada  

Subimos uma pequena colina porque lá no alto uma pepita de ouro nos espera.

A viagem é curta mas a espectativa é grande. “É muito bonita a aldeia, vais ver que te vai surpreender!”, eu sei que nas Beiras há aldeias, como um pouco por todo o país, bastante pitorescas e interessantes com cantos e recantos que nos deslumbram, “ah mas esta é especial!”, veremos então se é assim tão peculiar.

Chegados à porta de entrada da aldeia começo a perceber o que há ali de tão único.

Não são apenas as construções de pedra que dão personalidade à aldeia.

Entramos por uma pequena porta de estilo medieval, somos recebidos por ruelas estreitas, perfeitamente cuidadas e arrumadas como se de uma sala se tratasse. É primavera e há flores a adornar as fachadas das casas, formando um quadro onde nos queremos perder. À semelhança de muitas das aldeias destas Beiras, a tranquilidade impera e são poucos os habitantes que acolhem quem visita estas terras. Algumas pessoas de mais idade abeiram-se à porta das suas casas e levantam a mão a quem por aqui passa, com um sorriso humilde e sincero de quem agradece a visita e se orgulha da sua aldeia. E podem encher-se de vaidade.

Castelo Rodrigo, no alto da sua colina, vigia as terras lusas e é, verdadeiramente bonita.

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Caminhamos pelas ruas estreitas e poderíamos jurar estar a passear por um pequeno jardim.

Com cantos e recantos a cada esquina e muitos fantasmas a acompanhar os nossos passos, como só aldeias iguais a esta, com tamanha riqueza histórica podem ter. Por cá passaram reis, soldados e peregrinos. Heróis e traidores. Religiosos e donzelas. Contos e lendas, estórias da história que fazem estas gentes e povoam de misticismo as ruas, as casas e as pedras da aldeia de Castelo Rodrigo.

Caminhei tranquilamente pelas ruas de ocre luminoso. Observei as casas numa arquitetura delicadamente recuperada. Faz parte das Aldeias Históricas, e é um deslumbre. Subimos as ruas e vimos a igreja matriz, lá perto as ruínas de um palácio mandado construir por Cristóvão de Moura, que se dava bem com os Felipes do outro lado da fronteira e que findo o domínio espanhol também se findou o palácio às mãos do povo cujo coração, apesar de alguns tropeções no passado, já se tinha rendido à alma lusitana. Restam as ruínas desse edifício que enchem de um fantasmagórico fascínio esta parte da aldeia.

São belas estas ruínas e criam um ambiente único, quase teatral, que atrai os visitantes e os faz sonhar.

Há muito para ver nesta pequena aldeia amuralhada, parte do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda. A miscelânea de estilos na construção dos seus edifícios, uns manuelinos, outros árabes, pincelados de estilo romano, marcas de quem por aqui passou, se instalou e seguiu pelas páginas da história que forjou a nação e que marcou as terras e as gentes da região da fronteira. Para ver, apreciar e incluir em sonhos, a igreja-matriz do séc. XIII e Igreja e Convento de Santa Maria de Aguiar e ainda o Poço-Cisterna.

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O dia passa rápido e ao anoitecer, quando o sol se aproxima do ocaso, a luz dourada dos seus raios ilumina de ouro a aldeia que resplandece como uma arca do tesouro.

A luz é uma presença constante na aldeia, e mesmo na hora do lusco-fusco ela nos presentei com uma Castelo Rodrigo nova, envolta de mistério. Nos pontos mais altos da aldeia temos vista até ao fim do mundo e o pôr do sol é um espetáculo oferecido pelos deuses.

 

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“Então o que te parece a aldeia? Tinha ou não tinha razão?”

Sei que estes povoados foram edificados no topo das colinas como estratégia de defesa, já que do alto se conseguiam mirar os inimigos, mas gosto de pensar que quem o fez, fê-lo porque no final do dia, quando o sol beija as montanhas ao longe, o tempo para apenas para nós que temos o privilégio de estar aqui, no alto deste pedaço de terra pintado de ouro.

Fotografia: www.aldeiashistoricasdeportugal.com

Paremos para um Folgosinho de ar!

Subimos a Serra por entre estradas sinuosas, envoltas numa paisagem deslumbrante. Paramos para um Folgosinho de ar.

Pelo caminho, em dias solarengos, conseguimos que o nosso olhar alcance terras do Douro.

Continuamos a nossa viagem, passando por uma ou outra aldeia no sopé norte da Serra da Estrela. Gouveia já ficou para trás e ao fundo podemos ver Fornos de Algodres e Celorico da Beira. Somos forçados a parar, a estrada foi invadida, afinal por aqui o trafego por vezes é intenso, e as ovelhas têm prioridade nestes caminhos.

Conduzidas por um Pastor de capa ao ombro que, mesmo em dia de calor, a segura por uma mão calejada enquanto que a outra palmeia o caminho com ajuda de um cajado que, a par de um ou dois cães de raça Serra da Estrela, lhe faz companhia durante os dias e o ajuda a conduzir o seu rebanho pelos pastos da Serra.

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Chegamos ao nosso destino. Uma pequena aldeia na Serra. Os caminhos são estreitos e um dos primeiros edifícios que nos acolhe é a Igreja Matriz. Pequena e singela, humilde na traça mas calorosa em fé. Envolvida por um Adro onde as pessoas da aldeia se encontram e passam parte do seu dia, este Adro é a sala de estar do povo, rodeado de árvores frondosas que proporcionam uma apetitosa sombra em dias de calor, e mesmo despidas no Inverno, ornamentadas de neve, este pequeno espaço central na aldeia é o local mais convidativo e onde todos os caminhos embocam. Passamos o Adro e vemos a capela que acolhe os santos e as almas.

Todas as aldeias têm a sua capela, faz parte das suas gentes e tradições e é por causa dela e da sua Santa que todos os anos, no primeiro fim-de-semana de Setembro a aldeia se veste de festa e durante três dias.

Os filhos desta terra reencontram-se entre abraços de saudade e orações de fé. A Nossa Senhora do Socorro ajuda os seus filhos e estas gentes agradecem-lhe, pelas mãos de cada geração, com uma celebração que, mais que de fé, é de reencontro.

Seguimos pelos caminhos, numa espécie de altar, como que a velar por todos os que por estes lados passam, está uma espécie de Posto de vigia, O Castelo. Pode não ser um Castelo ostensivo, com grandes torres ou muralhas, mas defendeu estas terras dos mouros e protegeu as suas gentes dos ataques do inimigo.

Reza a lenda que nestas terras nasceu Viriato, o destemido lusitano. Anos mais tarde a terra terá sido visitada por El-Rei em pessoa, não se sabe ao certo de D. Afonso Henriques se o seu filho D. Sancho I. Mas seja como for, a aldeia no meio das pedras terá sido visitada pela mais alta figura nacional, que aqui terá descansado, aquando das suas batalhas com os mouros, bebido das águas puras de uma fonte que terá nascido milagrosamente, e nesta aldeia terá dito aos seus soldados para tomarem um Folgosinho do ar mais puro que encontrara.

O Castelo, posto de vigia, ou miradouro, permaneceu por cá, já não defende as gentes lusas, mas proporciona a quem o visita, vistas únicas, uma paisagem que de tão deslumbrante nos tira o ar, e nos força a tomar um Folgosinho.

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Esta é uma aldeia de fortes costumes, com uma história secular riquíssima, sendo que durante séculos fora uma das principais povoações do reino. Por cá passaram reis, senhores da corte e conspirações já no séc. XX.

Hoje passam por cá turistas. Milhares de turistas durante o ano. Será, a par de aldeias como o Sabugueiro ou o Piódão, a aldeia mais visitada da Serra da Estrela. Não apenas pelas suas casas de pedra, ou as suas ruelas irregulares, pelo seu Castelo, ou pelas paisagens deslumbrantes, mas por um local que começou como uma pequena tasca. Nesta pequena tasca, comandada pelas mãos do Sr. Albertino e da Sr. Emília, os petiscos gastronómicos da Serra ganharam louvores tais que cá acorrem, a este que agora já não é uma tasca, mas um verdadeiro empreendimento de Turismo Rural, mais conhecido pelo seu Restaurante, “O Albertino”, milhares de pessoas ao longo de todo o ano. Imortalizado pelos seus cinco pratos que fazem as delicias dos visitantes.

Aqui a gastronomia serrana é rainha e os produtos locais são uma prioridade.

As receitas têm muitos anos, mantendo-se praticamente inalteradas e confecionadas por gentes de cá, que lhes conhecem os segredos. Não é luxuoso “O Albertino”, mas também não é luxo que os visitantes procuram, aqui o que se quer é aquilo que se recebe, genuinidade, sabor e muita simpatia, à boa maneira beirã.

No final do repasto composto por cinco pratos o melhor mesmo é caminhar pela aldeia, comecemos por fazê-lo a pé, para ajudar a fazer a digestão, e se nos dias mais quentes não adormecer numa sombra, ou se no inverno não se refugiar à lareira de uma das casas de turismo rural que aqui existem, deixe-se levar pelas ruas, na companhia de alguns cursos de água que serpenteiam por lá, delicie-se com as muitas fontes que por aqui existem, e reflita nos seus dizeres. “Água e mulher só boa se quer”, “Oh Fonte dos limos verdes, que me dera a tua sina, és velhinha e nunca perdes o teu palrar de menina”, estes são apenas alguns dos dizeres que encontrará nas fontes da aldeia.

Se se sentir capaz de aventuras aconselho a que pegue no carro e se embrenhe na serra. Suba pelas estradas que levam à parte desabitada da aldeia. Aqui a Serra da Estrela irá desvendar-lhe paisagens deslumbrantes onde se quererá perder.

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Folgosinho é uma das aldeias mais conhecidas da Serra da Estrela, e quem a visita sabe porquê.

Não é apenas pelas paisagens nem pela boa comida. É pela senhora de lenço negro que se deixa aquecer pelo sol no Adro. É pelos velhotes que jogam às cartas frente ao restaurante. É pelas ovelhas acompanhadas do seu pastor e do seu fiel amigo. É pela bucólica paz que a envolve, pelas suas tradições e pelas memórias que guarda e que proporciona.

Pode estar a ficar despovoada de quem a cuide durante os dias, mas enche-se de calor com os seus filhos que todos os anos retornam e que teimam em fazer com que a sua alma perdure mais uns séculos, e ao fim-de-semana, seja de verão seja de inverno, enche-se de gentes que vêm de todos os cantos do país, e não só, levando as suas lendas e espalhando-as por todas as partes, levando os seus sabores e ansiando voltar o quanto antes. E mesmo que a subida seja dura, sabe-se que aqui, no alto da serra, numa terra construída no meio das pedras brancas, se poderá sempre tomar um Folgosinho de ar!

Fotografia: Manuel Ferreira Fotografia