Na Rota da Cereja
Estamos todos desejosos. Por esta altura, no ano passado, já tínhamos comido algumas. Este ano está difícil.
Começam a aparecer para nos satisfazer a gula.
São Pedro não nos ajudou este ano a podermos admirar a sua floração plena, mas o fruto já começa a despontar e esta é a altura mais deliciosa para sairmos ao caminho, de sapatilhas calçadas, mochila com algumas provisões e irmos passear pela Rota da Cereja.
Preparamo-nos para uma caminhada de quase 10km por entre cerejeiras e uma paisagem fantástica!
Começamos em Alcongosta e sabemos que este passeio durará cerca de 4 horas, podemos aproveitar para lanchar pelo caminho, sentados numa pedra a ouvir a natureza falar connosco – tem tanto para nos contar – e sabemos que no final voltaremos ao ponto de partida.
Em Alcongosta podemos admirar exemplares da antiga arquitetura doméstica, que é como quem diz, admiremos o casario que faz a identidade desta terra, com as suas varandas em madeira e paredes de pedra e terra.
A Igreja de Nossa Senhora da Anunciação é um edifício seiscentista digno de apreciação.
Aproveitemos para conhecer as suas capelas, a do Espírito Santo, datada de 1578, a capela do Mártir S. Sebastião e a do Calvário, marcas da fé destas gentes.
A região da Cova da beira tem uma relação muito intima com a cereja, sendo conhecida em todo o país como um dos locais onde se cultiva aquelas que são, para muitos, as melhores cerejas do mundo – a Cereja do Fundão.
Quando floridos os cerejais são pequenos mundos de fantasia onde podemos sonhar com fadas e elfos, num mar de flores rosadas de uma beleza quase etérea.
Quando o fruto desponta o espetáculo é entre o verde e o vermelho, cores da nação, cores se puro sabor. Brilhantes cativam os nossos olhos e fazem-nos salivar!
Em Alcongosta a cerejeira é a árvore ícone da identidade da terra, e aqui a cereja é festejada com pompa e circunstância na Festa da Cereja que ocorre todos os anos e atrai milhares de pessoas em junho.
Mas nem só de cereja se vive em Alcongosta.
A cultura e as tradições são fortes por estas terras e a cestaria reserva em si segredos ancestrais e uma mestria de invejar.
As Cestas de Esparto são um dos ex-libris da terra, feitas através do esparto, uma planta recolhida na Serra da Gardunha, e a cestaria em verga de castanheiro são exemplos de antigos saberes e funções que podemos encontrar nas oficinas artesanais e nos “refogadouros”.
Caminhamos. Olhamos a paisagem. Comemos algumas cerejas. Colhemos outras que podemos guardar em cestos de verga ou esparto e sigamos a Rota da Cereja.
Ao longo do caminho encontramos alguns Miradouros onde podemos contemplar a paisagem que se estende até aos limites do sul da Serra da Estrela.
Passamos pela Casa da Floresta, antiga habitação de um dos guardas florestais da Gardunha e apreciamos a paisagem. Seguimos o caminho e passamos peça Quinta Serrana, pelo Souto do Mouro e pela Quinta de São Gonçalo.
Regressamos a Alcongosta.
A Rota da Cereja é um calendário dos sentidos. Na Primavera, as cerejeiras vestem-se de branco a Gardunha num espetáculo único.
No verão o verde das árvores, pontuados pelo vermelho dos seus suculentos frutos atiçam a gula.
No outono os tons ocre, amarelo-alaranjado das folhas pintam a paisagem num quadro magnifico.
No Inverno a paisagem enche-se de neblina e os troncos cinzentos confundem-se com as pedras da paisagem num sono revigorante que as fará despontar na Primavera e começar tudo de novo.
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