As Músicas que os Vinhos Dão, o Dão tem Musical!

Ir à Feira do Vinho do Dão é aproveitar para ficar a conhecer alguns dos melhores vinhos de Portugal e que, por acaso, são feitos na Região Demarcada do Dão.

Nelas assume-se como sendo o “coração” desta região, não apenas pela sua posição geográfica mas também porque é o concelho que mais vive este vinho, celebrando-o anualmente naquele que é o maior evento do género da região. Mas desenganem-se aqueles que julgam que a Feira do Vinho do Dão é indicada apenas para apreciadores de vinho e que, caso não o seja, irá perder o seu tempo. Pois, como disse, desenganem-se, nesta Feira onde o vinho do Dão, de facto é Rei, há muito para ver e fazer, porque se o Vinho é Rei a gastronomia é Rainha e a Música compõe o reino e em grande!

Ao contrário das Feiras a que estamos habituados, na Feira do Vinho do Dão, a música assume contornos de requinte, sendo a cereja no topo do bolo.

Aqui não há lugar para bandas populares nem bailaricos desenfreados, aqui a Música conta histórias e está elevada à categoria de espetáculo Musical.

fvd_2

Surpreenderam na edição do ano passado e este ano decidiram ser ainda mais grandiosos, assim sendo, a Associação Contracanto de Lapa do Lobo , pelas mãos de António Leal e pelas palavras de Sandra Leal, reuniram um elenco de atores de luxo que conta com nomes como Vítor de Sousa, Sissi de Sousa, Rúben Madureira, Catarina Matos ou Márcia Borges e um conjunto de vozes que prometem maravilhar como as de Yola Dinis ou de Sofia de Castro, e produziram um espetáculo que promete mais novidades e mais histórias em torno do mundo do Vinho do Dão.

Durante as noites de 4, 5 e 6 de setembro o Taberneiro e as suas gentes irão fazer as delicias de todos os que visitarem a Feira do Vinho do Dão, independentemente da idade que tenham porque, ao contrário do que à partida possamos pensar, esta Feira é para todas as idades, porque o Mundo do Vinho do Dão vai além do próprio vinho.

O Musical “As músicas que os vinhos Dão” deste ano será, mais uma vez, uma viagem às Terras do Dão. Muita música, muita cor, muita dança e um fantástico elenco de vozes que se juntam na alegria de cantar o Dão.

fvd_1

O Taberneiro vai abrir mais uma vez as portas da taberna e receber de coração cheio o povo cansado, mas orgulhoso da vindima.

Entre brindes, discussões, alegrias e confissões, a taberna este ano “guarda” as histórias de Amor: o Amor impossível, o Amor perdido, o Amor secreto, o Amor jovem e o Amor pelo Dão.

Quem assistir a “As músicas que os vinhos Dão” deste ano vai apaixonar-se por Rosinha, chorar com Carmencita, emocionar-se com Santiago e rir com os taberneiros.

Este ano, “As músicas que os vinhos Dão” revelam segredos, cantam dores e prometem a Felicidade!

Com a duração de cerca de 50 minutos, “As músicas que os vinhos Dão” pretende, uma vez mais, enaltecer o vinho, o Dão e, principalmente, “a verdadeira alma de uma região”!

Após cada espetáculo terá lugar uma Wine Party que levará todos madrugada dentro com muita música a cargo de alguns Dj’s, com cocktails especialmente desenhados para a ocasião. A entrada e a bebida é gratuita. Querem mais motivos para conhecer a verdadeira alma de uma região?

 

 

 

Esplanadas para que vos quero!

Se há algo que gostamos de fazer, principalmente nestes dias em que o sol nos convida a ir à rua, é sentarmo-nos numa esplanada, seja em amena cavaqueira com os nossos amigos, para ler o jornal enquanto bebericamos um café, ou para almoçar ou lanchar enquanto aproveitamos os raios de sol.

Todas as cidades possuem esplanadas e alguns de nós acabamos por ter as nossas favoritas, seja pelo atendimento ou pela envolvente, pela localização, mais ou menos discreta, ou até mesmo pela música ou pela empregada gira que nos atende com um sorriso.

Ter uma esplanada favorita é como ter um café preferido ou um bar que mais nos agrada. Tem a ver com vários fatores e ainda bem que o verão chegou porque as nossas esplanadas estão mais interessantes nesta altura e mais apelativas.

Aqui pela Guarda, local onde no verão encontramos várias esplanadas, tenho um punhado de locais favoritos, algumas delas, confesso, conforme a altura do dia ou mesmo consoante o dia da semana.

Hoje vamos, então, fazer um périplo pelos meus locais de eleição para passar uns momentos tranquilos com os amigos, para ver o movimento da cidade ou mesmo para comer alguns petiscos.

Começamos pelas frescas manhãs de verão na Guarda com o sol tímido a espreitar.

Para aquecer os ossos e prepararmo-nos para um dia de trabalho ou lazer, já que muitos podem estar de férias, sugiro que nos abanquemos numa das esplanadas com as paisagens mais bonitas desta cidade, a esplanada do Bar do Lago no Parque Urbano do Rio Diz.

 

olago

A vista para o lago na luz tranquila da manhã é fantástica e ajuda-nos a encher de energia um corpo ensonado enquanto bebemos um café e admiramos a coragem dos muitos que, pela manhã ,embarcam numa sessão de running pelo parque.

Esta esplanada também é muito interessante no final do dia, a não ser que, como eu, seja do tipo de pessoa que dispensa um concerto de coaxares incessantes. Para alguns pode ser até calmante, para mim, bem… não é.

Se é daquelas pessoas que gosta de tomar um café a meio da manhã, sugiro que vá até ao centro da cidade, a esplanada do Dupepe no Jardim José de Lemos é bastante interessante, com assento em pleno centro da cidade, com vista para o Jardim ou, se preferir, para o movimento de uma das zonas mais mexidas da mais alta.

dupepe

Este local também é ótimo ao final do dia se desejar comer umas tapas e beber umas cervejas com os amigos, no fim-de-semana é, igualmente, um dos locais que elejo para uns momentos de amena cavaqueira enquanto vemos as pessoas circularem pelo Jardim.

Já que estamos no centro da cidade, não posso deixar de fazer referência a uma das minhas esplanadas preferidas seja de verão seja de inverno, até porque este é um dos locais mais gulosos da cidade e onde encontramos, e desculpem-me os outros comerciantes do tipo, a melhor gelataria da Guarda.

martuccis

Mesmo no Inverno visitar a Martucci’s gelataria é uma experiência deliciosa, e não precisamos comer gelados, o chocolate quente e os crepes aqui são uma tentação, e se forem consumidos na esplanada ao pé do aquecedor e de manta nas pernas, a experiência é formidável.

No verão esta esplanada oferece um local discreto e agradável, talvez para uma sobremesa em família ou para uma conversa de negócios.

A tarde chega e a fome aperta. Neste momento do dia gosto de ir, sempre que possível, até à esplanada da Alameda, uma das maiores da Guarda, em pleno centro da cidade, perto do Hospital.

alameda

Um espaço amplo e, sem dúvida, um dos mais bonitos da Guarda, com vista para a histórica fonte. Aqui podemos lanchar e petiscar enquanto bebemos uma cerveja e damos dois dedos de conversa.

A noite cai e, acreditem ou não, na Guarda até que há noites mais amenas e convidativas a uma bebida fresca em boa companhia.

No final de jantar e, principalmente ao fim-de-semana, gosto de me juntar com um bom punhado de amigos e ir até um local discreto onde o serviço é de qualidade e o ambiente descontraído.

No centro da cidade a minha esplanada de eleição é a do Bar “O Praça”, enquanto muitos ficam pelas esplanadas da Sé, acerca das quais não tenho nada contra, eu prefiro o recanto deste Bar, com ambiente jovem mas familiar, que garante umas horas muito bem passadas.

opraçavelha

Para acabar a noite em grande sugiro a esplanada do Bistro Bar In&Out ao pé da Central de Autocarros, sugiro a noite, mas confiem que para almoçar este Bistro é uma boa escolha com uma carta fabulosa e cosmopolita.

in&out

Aqui a esplanada emboca na estrada e o movimento é interessante. Este é o local ideal para se render às modas, como beber um bom gin de algumas das melhores marcas do mercado, já que o In&out tem um dos melhores bares de Gin da região ao som de boa música e gente gira.

O verão pede-nos para ir para a rua e as esplanadas são o local ideal para descomprimir ou para nos divertirmos.

Agora deixo-lhe o desafio, diga-me qual a sua esplanada favorita!

BFM

Conheça Almeida, a Estrela do Interior

Chamam-te a Estrela do Interior, por causa da tua forma.

Os árabes chamaram-te, devido à tua localização em planalto, Al-Mêda (a Mesa). Foste quartel general de batalhas pela guarda da Fronteira. Uma máquina de guerra adaptada para nos defender dos invasores que surgiam além-fronteira, dos lados de Espanha e que queriam subjugar a nação aos seus domínios. Foste e és Almeida.

Almeida 09

Conheci-te num dia frio de Primavera.

Um daqueles dias em que o sol apenas ilumina e não aquece.

Entrámos por uma das tuas portas duplas, já não sei qual, mas lembro-me que me deslumbraste. Não tinha noção do quão bonita Almeida é.

Caminhámos pelas tuas ruas desertas e podemos observar os edifícios e fachadas beirãs em tranquilidade sem o reboliço das gentes. Estavas só.

Chegámos às tuas muralhas e caminhámos junto a elas. Aqui começámos a perceber o porquê de te chamarem estrela.

Sei que fiquei impressionada com a tua arrumação e organização. O cuidado com o teu património salta à vista.

Chegados ao Picadeiro D’el Rey tivemos a oportunidade de ver alguns cavalos e animar os mais pequenos que corriam empolgados com tanto espaço por onde libertar a imaginação.

Saídos, subimos à tua muralha e caminhámos apreciando a paisagem que te rodeia.

Contámos ao miúdos parte da história das tuas batalhas que, depressa, começaram a recriar.

4efb6a4e2923209ef79cb4660c494bfe

Seguimos caminhando, porque Almeida entre muros conhece-se andando, chegámos às Casamatas/Baluarte de S. João de Deus. No interior encontra-se um vasto complexo construído de 20 compartimentos abobadados e com cobertura megalítica, única no seu tipo. Contam-nos que serviram de refúgio à população quando a Praça-forte era atacada. Hoje é um Museu onde podemos conhecer melhor a história das Batalhas que aqui tiveram lugar.

d378e5881861386f3aa4836bce60ac81

Almeida é muito conhecida por causa das invasões francesas, mas as suas histórias de luta remontam a um passado bem mais distante do que aquele em que Napoleão andou por este mundo.

Em Almeida ainda há vestígios do seu castelo cuja origem, se supõe, seja de fundação muçulmana ou leonesa. Presume-se que o segundo castelo tenha surgido antes do reinado de D. Dinis, de estilo gótico e um dos mais pequenos da zona fronteiriça.

São muitos os teus atrativos. Recordo um dos mais impressionantes, nestas coisas da arquitetura militar, onde te destacas no mundo, o Revelim Doble, de estrutura dupla (daí o nome), considerado um dos baluartes mais perfeito por cobrir todos os flancos. Aqui acabaram por construir um Hospital de Sangue devido ao número elevado de feridos que ocupavam a cadeia e a casa da câmara.

07518020c6172308ffd3d7fd0b080870

És cheia de histórias para contar, e não é difícil imaginar as disputas que aqui tiveram lugar.

És um livro a três dimensões, e por isso fazes parte do Roteiro das Aldeias Históricas.

Voltarei no final de agosto para assistir a um dos maiores eventos nacionais no que toca a recriações históricas.

Serás invadida pelos franceses e irás lutar para te defender durante 3 dias, recordando o que aconteceu entre 15 e 28 de agosto de 1810. Tenho a certeza que, desta vez, não serão apenas os mais pequenos a embarcarem na viagem pela imaginação.

Sei que foste campo de batalha, palco sangrento de disputas. A tua arquitetura foi feita com esse propósito e hoje encontrei-te em paz, longe dos dias de tormenta, morte e medo. Encontrei-te tranquila, deserta e silenciosa, mas convidativa. Voltarei de certeza com a esperança de te ver cheia de gente, porque esta Estrela do Interior merece ser visitada, apreciada e vivida!

Tânia Fernandes

A medieval protetora das Beiras

Conheci-te em dia de festa, com as ruas cheias de gente, num reboliço de tempos de outrora quando eras um centro de frenesim comercial com as tuas Feiras Francas.

Lembro-me de quando te vi pela primeira vez, Castelo Mendo, no alto da tua colina, como um soldado que vigia as suas gentes, protegendo-as de um inimigo que já não existe mas que te tornou fortaleza.

10256443_612746985482953_4085081776913639814_o

Caminhámos para a tua entrada protegida por dois soldados imponentes que guardam as tuas entranhas. Pela porta estreita entrámos e seguimos pelas tuas ruas de pedra vestidas, num casario arregimentado que me deixou deslumbrada, com gentes vestidas de época medieval que nos acompanhavam e apresentavam os seus produtos.

11036296_839845809439735_2033888655221503368_n

És Castelo Mendo, no alto da tua colina, seguimos até ao teu topo, subidas algumas escadas encontrámos, magoada pelo tempo, mas estoica, a Igreja de Stª Maria do Castelo, lá dentro vestígios do passado, com a sua pia batismal e o altar ao fundo.

Conseguimos, se quisermos, ouvir os cânticos das cerimónias que por aqui passaram, as suplicas a deus das mães e mulheres de soldados que combatiam nestas terras pela proteção do reino, o choro sufocado de donzelas que rogavam à mãe de Cristo para que os seus amados regressassem para que lhes devolvessem aquele beijo roubado.

10339406_612748418816143_8558801402610522075_o

Ruinas que no final de um dia de sol se vestem de dourado antecipando, aos visitantes, a majestosa paisagem que os espera quando atravessarem a Porta do Castelinho, no topo sul da cidadela. Uma porta que, outrora, dava acesso ao núcleo mais antigo do Castelo, de características românticas e acompanhado de uma ou outra oliveira, árvore que por aqui é comum.

Passados pela porta, caminhamos mais um pouco e o que nos espera é de cortar a respiração.

Uma paisagem que se estende até Espanha, e nós cá no alto, num misto de imponência e pequenez, assoberbados com tamanha beleza. Aqui estamos no inicio do mundo, à nossa frente estende-se a Europa. Imaginamos o borburinho de homens medievais quando o inimigo estava no seu encalce, lá em baixo.

Acordo desta viagem no tempo, pelo pensamento e pela imaginação, com pregões de atores que correm pela envolvente da Igreja. Estamos em plena Feira Medieval e, este ano, o sol fez-nos companhia, é Primavera, estamos em abril e tudo à nossa volta ganha vida.

Hoje Castelo Mendo recupera as memórias de outrora, enche-se de gente e de vida, música, cor e pregões. Amanhã voltará ao silencio , esperando que os seus regressem no verão para que as ruas voltem a cantar.

Castelo Mendo faz parte do concelho de Almeida e integra as Aldeias Históricas.

Na fronteira com Espanha este foi um dos principais pontos de vigia e defesa da nação, história que lhe está impressa nas pedras que ladeiam as ruas e as casas. Tal como nas outras aldeias históricas, Castelo Mendo está envolta em mistério, numa beleza hipnótica que nos faz curvar aos seus fantasmas.

O dia terminou, de Espanha vinha o céu negro que ameaçava ruir sobre nós, fomos embora. Para trás ficava a Festa maior de Castelo Mendo. Voltarei outro dia.

 

Tânia Fernandes

Pelas Rotas das Aldeias de Montanha

Para os amantes das caminhadas e da natureza sugerimos, hoje, um conjunto de rotas muito especial, que o levará a conhecer algumas das mais belas aldeias da Serra da Estrela, em percursos de fazer parar a respiração, e não (apenas) por cansaço ou pela altitude!

Nas Rotas das Aldeias de Montanha encontrará 14 percursos num total de cerca de 100km, abrangendo o território das Aldeias de Montanha.

A Rota da Ribeira do Piódão em Vide.

A Rota da Ribeira de Loriga que abrange as localidades de Loriga, Vide e Cabeça.

Ainda por lados de Cabeça encontra a Rota dos Socalcos.

Em Loriga poderá encontrar a Rota da Eira e Rota da Garganta de Loriga.

Por lados de Teixeira existe a Rota da Missa.

Em Sazes da Beira pode seguir a Rota do Volfrâmio.

A Rota das Minas do Círio começa em Valezim.

Há ainda a Rota da Caniça em Lapa dos Dinheiros.

Em terras de Sabugueiro existem as Rotas do Vale do Rossim e a Rota da Fervença.

Em Alvoco da Serra e Vide encontra.

Ainda a Rota da Ribeira de Alvoco.

Em terras de Alvoco da Serra pode optar pelas Rotas das Canadas e Pastoreio.

Claro que cada Rota tem as suas especificidades e grau de dificuldade, por exemplo, as mais difíceis são as Rotas da Garganta de Loriga, da Ribeira de Loriga, do Pastoreio e a Rota da Ribeira de Alvoco.

Se for um caminhante que gosta de um desafio mas não dispensa apreciar a paisagem sem grandes esforços físicos, tem para si as Rotas de dificuldade média. Falo das Rotas das Minas do Círio, da Caniça, Canadas, Fervença e Rota de Vale de Rossim. Para aqueles que não querem grandes dificuldades nas suas caminhadas há as Rotas de dificuldade fraca como as Rotas da Eira, Socalcos, Missa e Rota do Volfrâmio.

Estas Rotas (que pode consultar em pormenor no site do município de Seia) são uma ótima oportunidade para conhecer a riqueza natural e cultural das paisagens e das comunidades das aldeias.

A Serra da Estrela é muito mais que neve, muito mais que um destino de Inverno sendo capaz de oferecer a quem a visitar, autênticos tesouros, raros no país. Os caminhantes são desportistas que entendem o valor da paisagem na prática destas atividades e mais do que praticar desporto, o pedestrianismo é um instrumento de interpretação e conservação da paisagem, representando um produto estratégico de promoção do território junto de um público muito especifico e que se encontra em grande expansão.

Calçe as sapatilhas e venha conhecer esta Rota das Aldeias de Montanha, uma forma especial de aliar a saúde e o bem-estar ao turismo, com certeza saíra daqui mais saudável e com mais histórias para contar e memórias para guardar!

 

 

Afinal onde se come o melhor caracol?

“Mas que nojo, como é que vocês conseguem?!”, exclamei eu entre um misto de curiosidade e náusea, num rasgo de pesquisa social para tentar perceber o que via à minha frente.

Prova que vais ver que gostas!”, diziam elas enquanto se deliciavam com aquilo.

“Parece que estão vivos!”, dizia eu enquanto pegava num e o inspecionava tal cientista numa investigação minuciosa.

“Não podes dizer que não gostas antes de provar!”, “eh pá mas na minha terra isto não se come!”, “não sejas mariquinhas e prova!”.

E lá me encontrei, encarando de frente o bicho como um toureiro enfrenta o touro numa pega, só que aqui os cornos eram outros e o tamanho do animal era bem menor, mas a coragem necessária para abrir a boca e sorver o dito era proporcional à do forcado, certo que os riscos de morte eram menores, mas a bravura necessária para experimentar este “petisco”, era herculana, pelo menos para mim.

O meu cérebro era, naquele momento, uma arena de disputa entre a vontade de provar aquilo que levava as minhas amigas a lamberem os dedos, e a repulsa.

“Não sejas fraquinha, tu consegues miúda, afinal, se elas estão ali todas lambuzadas é porque isto não deve ser assim tão nojento, anda lá, não dês parte fraca, fecha os olhos e come!”. Foi o que fiz. Segurei-lhe na carapaça e, estoicamente, servi-me do palito e arranquei o caracol para fora da sua concha! Confesso que não voltei a olhar, sabia que o corpo desnudo do desgraçado me iria causar repulsa e demover-me daquela empreitada. Acho que engoli de uma só vez.

land_snail_183855

O sabor a orégãos sobrepunha-se aos restantes ingredientes e, para meu espanto, o meu palato bateu palminhas de contente e percebi o porquê do alarido lá em casa quando a Branca trouxe a panela com os caracóis, “especialidade da nossa casa em Castelo Branco!”.

Aqueles caracóis eram, de facto, deliciosos!

O molho e a textura do petisco pediam o acompanhamento de uma boa broa, e cá pela Guarda a broa é bem boa e casa na perfeição com um belo prato de caracóis!

Foi desde essa tarde de junho, por entre os livros e os apontamentos do exames, que deram, a esta Minhota, a conhecer um dos mais afamados petiscos dos tascos desta região, o caracol! E rendida fiquei.

2004 ano de Europeu!

Estávamos nos idos anos de 2004, Portugal recebia o Campeonato Europeu de Futebol e, como bons adeptos, e como bons estudantes com pouco dinheiro que éramos, lá nos juntávamos onde a garantia de bons momentos em frente à televisão, com a certeza que nos iriam servir bons petiscos a preço de amigo. Foi por esses dias que começamos a percorrer alguns dos tascos do centro da cidade, um por jogo, porque essa era a nossa certeza de vitória na certa e nestas coisas da sorte e do azar é melhor não arriscar, daí que a cada jogo íamos variando a bancada. A cada partida pedíamos um prato de moelas, um de pica-pau e uma dose de caracóis. E assim fui provando, nas tascas que serviam, os diferentes sabores que o caracol pode ter, por bandas da cidade mais alta, entre gritos de euforia e vitória.

Durante o Euro 2004 dois locais, na minha humilde opinião, venceram a competição do melhor caracol da Guarda: o Café A Dorna e o São Pedro.

Na Dorna o sabor do cominho (do qual sou super fã), acompanha a textura do caracol na perfeição e quando passamos o pão pelo molho, o resultado final é fabuloso.

No São Pedro os orégãos são a companhia perfeita do caracol, e quando quente, o molho que os acompanha é tão maravilhoso que mesmo quando os dedos queimam, não podemos deixar de sorver o caracol da sua casca numa harmonia perfeita com o seu molho, e não há cá vergonha nem pelo barulho nem pela nódoa certa na camisola.

Não vos sei dizer qual é o meu favorito, os dois estão no mesmo patamar o que, na minha perspectiva, é uma vantagem, assim, quando um sitio está cheio ou fechado, posso sempre ir ao outro sabendo, de antemão, que me vou deliciar à mesma.

Ao longo destes anos fui provando as especialidades no que toca ao caracol, noutras casas desta cidade, umas melhores que outras, mas confesso que os caracóis da Dorna e do São Pedro são os meus eleitos, e se acompanhados de um bom punhado de amigos, dois dedos de conversa e uma cerveja gelada, para mim é a perfeição.

Voltando atrás na minha história, carrego em mim a culpa da derrota da equipa das quinas frente à Grécia, tanto no início da competição, como no final da mesma. Na primeira não fui ao tasco e vi o jogo em casa. Na segunda, arriscamos a sorte, dispensámos os caracóis e juntamo-nos com mais pessoas para ver o jogo num dos palcos da cidade, acabámos por perder a final. Aprendi a minha lição. Não há europeus ou mundiais sem caracóis no prato!

Fotografia: Food With Meaning

Tânia Fernandes (ferrenha adepta do caracol)

 

 

 

O Tasco quanto mais Tasco melhor!

Todas as localidades têm um, mas nas cidades eles proliferam às dezenas. Muitos pensam que são cafés, mas não, apenas estão disfarçados. Os Tascos, aqueles a sério, são santuários.

Os Tascos são locais guardadores de segredos de pessoas fieis a estes espaços.

Os seus donos, que humildemente nos recebem ao balcão, são confidentes e conhecem os seus clientes de um modo tal que não encontramos cumplicidade semelhante em mais nenhum lado. Mas, do mesmo modo que recebem o seu cliente fiel, abrem os braços e os sorrisos para os clientes novos. Há aqueles que nos atendem de modo carrancudo, de palito na boca, pano de cozinha ao ombro, com um rude “qué que vai ser chefe? Diga lá que tenho a casa cheia!”, mas que depois olham em cumplicidade para o cliente mais antigo e percebemos que é uma espécie de praxe e logo depois nos trazem os mais deliciosos petiscos que alguma vez comemos nada vida!

É sabido que os melhores locais para se comer são os tascos, e quando mais tasco melhor!

Quando falo em “quanto mais tasco melhor”, falo daquele tasco que tem cadeiras antigas e um calendário da Senhora do Socorro, ou do Talho lá da zona, datado de 1990, como que numa referência à altura em que abriu ao público.

Há petiscos inevitáveis em todos os tascos, começa pelos rissóis, pastéis vários, orelha e moelas, o que vier depois já é característica do tasco. E se há coisa que não pode faltar no tasco é o vinho e a cerveja, e mesmo que o vinho seja mau (temos de anuir sempre ao dono quando ele afirma, peremptoriamente, que é a melhor pinga da região…. cultura própria), torna-se bom ao final de uns pratos de moelas e uns tantos copos para ajudar a “empurrar”.

No tasco não se come apenas, fala-se de tudo como num fórum de sabedoria do povo, e o povo é que sabe! Fala-se de política com a mesma paixão que se fala do futebol e do jogo da noite anterior.

Nos tascos não há clube, não há partido político, há discussões, e muitas, acerca de tudo numa amálgama de opiniões.

Se se chega a alguma conclusão no final das conversas acesas pela bebida? Não. Mas também não interessa, porque no final o que fica é o sabor dos caracóis ou o picante do queijo.

Quando entramos num tasco não queremos mobiliário da moda nem um hipster a atender-nos, a não ser que seja filho do dono, e aí habilita-se a levar uns calduços. Quando entramos num tasco queremos os azulejos nas paredes e a montra das garrafas ao balcão. Queremos a média luz e os quadros com dizeres como “Aqui não se vende fiado” ou “Eu gosto tanto do vinho, e dá-me tanta alegria, que até chamo ao garrafão a minha telefonia”. Queremos a mini servida com os tremoços e as azeitonas sem termos de pedir.

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Os tempos mudam, eu bem sei, mas há coisas que eu gosto que permaneçam paradas no tempo, e um tasco, quanto mais característico melhor, sob pena dos seus petiscos perderem o sabor típico e tradicional que nos leva à nossa juventude.

O tasco é ponto de encontro e, mesmo que tenhamos um preferido, acabamos sempre por visitar outros.

Na Guarda há uns quantos muito característicos, de alma beirã, mesmo que o dono seja alentejano ou minhoto. Aqui somos bem recebidos e o riso é bondoso e genuíno. Não podemos deixar as tascas desaparecerem, são parte da nossa memória, e a memória é o que de mais importante temos!

 

B.F.M

A minha praia é melhor que a tua!

Chega o verão, o corpo aquece e a nossa busca pelo refresco é frenética. Desesperamos por uma sombra, por um pedaço de terra onde os raios de sol não nos esquentem a pele, por um pouco de água fresca, por uma praia!

E pensam os nossos amigos do litoral, enquanto bebericam uma bebida fresca numa esplanada com vista privilegiada para o mar azul e o areal dourado de uma qualquer praia, “coitados daqueles que vivem longe do mar, nestes dias têm de se acotovelar nas piscinas, enquanto disputam por dois metros de relva onde colocar a toalha (como se não soubéssemos o que se passa nos areais mais concorridos ao fim-de-semana), ou então derretem lentamente numa esplanada”.

Pois meus caros, por cá temos um segredo!

Aqui as praias não têm sal, grande parte não tem areia, pelo menos a convencional, mas proporcionam, a quem as conhece, um pequeno pedaço de paraíso rodeado de luxuriosa vegetação. Pequenos pedaços escondidos na serra, algumas esculpidas nas rochas pelos rios que, gentilmente, nos deixam banhar nas suas águas – gélidas águas – e nos refrescam os corpos e as almas!

Quando vim viver para a região do Interior, convencida que as praias do litoral eram as únicas que poderiam preencher as medidas dos Portugueses, estava longe de perceber a real alma de uma praia fluvial até ao dia em que, de mochila às costas, me juntei com um grupo de amigos e nos lançamos em busca de um paraíso perdido que, supostamente, existia ali para os lados da Barragem do Caldeirão na Guarda.

Disseram-nos que nos íamos impressionar com a magnitude da natureza envolvente.

Lá fomos nós pelas aldeias da Guarda em busca desse prometido paraíso esculpido pela Serra da Estrela e pelo Rio Mondego.

Deixámos os carros na estrada e seguimos a pé seguindo o cantar do rio. Embrenhámo-nos pela vegetação e, ei-lo, ou melhor, ei-los, os tão prometidos pedaços de paraíso! No meio da vegetação, cavados por escarpas douradas, pintalgados de raios que furam as sombras das árvores e protegem este pedaço de mundo. Já conhecia algumas lagoas no Gerês, mas estas… Estas tiram-nos o fôlego precisamente por não serem imponentes, por serem pequenas lagoas esculpidas por entre as rochas.

São lugares intimistas, quase intocáveis que nos fazem perceber que, por aqui, a Serra é generosa, e aqui, a natureza transforma-se em tela viva onde nos podemos esconder e ser parte dela.

praia vila soeiro

Tive o privilégio de encontrar esse pequeno pedaço de mundo. Mas a vida muda, o clã cresce e temos de procurar locais mais apropriados à família e que não impliquem aventuras de mochila às costas por entre vegetação frondosa, foi então que optei por recorrer às Praias Fluviais.

Só quem as visita percebe o porquê de muitos de nós as preferirem às piscinas ou mesmo àquelas de água salgada que abundam por todo o litoral. Aqui há espaço e condições magníficas para se passar bons momentos em família. Seja para o irrequieto do miúdo que gosta de jogar à bola ou para o avô que não dispensa a sua sesta por baixo de uma sombra.

“Ai mas a água é fria!”, não, a água não é fria, é gelada!

E não podia ser de outra forma! Num dia de calor abrasador meter o pé nas águas do rio é do mais refrescante que pode existir! E, pronto, nem todas as praias são geladas, há algumas, como a de Valhelhas na Guarda ou a de Loriga em Seia, cujas águas estão “travadas” em represas, que não são geladas, apenas frias, ou frescas.

Confesso que, no rio, o que menos faço é nadar ou mergulhar, gosto de ver os peixes na água a mordiscarem os pés, gosto de ver as cores das pedras que descansam no leito do rio, e nestes casos, enquanto coleciono pequenos tesouros fluviais com o meu filho, a água fria não incomoda, muito pelo contrário.

praia valhelhas

A região está cheia de Praias Fluviais maravilhosas e, para mim, é muito difícil escolher qual a melhor.

Gosto da de Valhelhas e Aldeia Viçosa na Guarda e a de Vale de Rossim em Gouveia é deslumbrante pelo azul das suas águas! Em Seia encontramos a Praia Fluvial de Loriga, pitoresca e maravilhosa.

Difícil mesmo, é escolher as que prefiro, para mim são as melhores do mundo. O desafio que aqui deixo é que me digam qual a melhor da zona centro! Digam-me lá se a vossa praia é melhor que as minhas!

 

Tânia Fernandes

 

Vamos mergulhar:

 

 

 

Pé na estrada até Casteleiro

É verão e apetece caminhar, por isso vamos lá pegar nas sapatilhas, roupas confortáveis, acordar bem cedinho e de garrafa de água na mão, porque é preciso hidratar, dar ao pezinho porque as terras são lindas e nas Beiras há muito para ver. Estão na moda as caminhadas, principalmente as bem acompanhadas, e há modas que de tão saudáveis que são devem ser como as noticias acerca do Cristiano Ronaldo no facebook – virais!

Há muitos municípios a mostrarem sensibilidade por esta causa, e mais do que isso, a darem conta do potencial turístico deste tipo de prática desportiva, como é o caso do Sabugal que disponibilizou 8 percursos pedestres que permitem, a quem for caminheiro, fazer exercício físico e cultural, ficando a conhecer algumas das belezas que fazem parte do património cultural e histórico deste município raiano.

Hoje vamos falar acerca do Pr 7, a Rota dos Casteleiros e que permite ficar a conhecer uma das mais bonitas Aldeias Históricas da região, Sortelha, pois é lá que se inicia este percurso.

Então vamos lá! Sapatilhas confortáveis calçadas, mochila às costas com bens essenciais que, no verão, deverão incluir água, protetor solar, fruta e uma barra energética, e um ou outro item que considere indispensável, afinal vamos andar pela natureza, e já agora, nada de deixar lixo por onde passar e cuidado porque estamos no verão e as matas começam a ficar secas, não queremos nenhum fogo pois não? Começamos em Sortelha, terra linda deste concelho do Sabugal, o inicio é no Largo de Santo António, junto à estrada municipal. Atravessa este largo antigo com dois solares a sul, e saímos da aldeia. Espera-nos uma descida suave, por entre hortas e antigos olivais. Lá no alto podemos admirar a escarpa de granito e o castelo, imponente, que guarda as suas gentes como uma sentinela.

sortelha1

Se pensa que a caminhada está a ser tranquila e a dificuldade é “para meninos”, a partir daqui irá começar a subir a ladeira íngreme em direção à “Porta da Vila”, entrada principal da Aldeia Histórica de Sortelha. Entramos neste mundo medieval, guardado pelo tempo, cheia de histórias e lendas para contar. Seguimos pela rua principal em direção a oeste e saímos pela “Porta Nova” para fora da muralha.

Aproveitemos para absorver alguma história com os vestígios medievais aqui presentes como as ruinas da Igreja da misericórdia e o antigo hospital. Começamos a descer aproveitando uma antiga calçada medieval com alguns troços ainda visíveis. Executando uma pequena subida logo após a Quinta das Parturas, o percurso faz-se por uma descida suave, ladeada por carvalhos e matos rasteiros que nos acompanham até perto do Casteleiro.

No Casteleiro, já em terras da Cova da Beira, encontramos vários olivais. Chegamos à capela de S. Francisco, no núcleo primitivo de Casteleiro.

Cansados? Alguns sim, outros nem por isso. A beleza deste percurso merece o passeio! E agora? Voltamos para trás, porque não?

 

Tânia Fernandes

Marialva, a Alva das Beiras  

Envolve-te como um presente este branco nevoeiro, abraçando-te nesta fresca manhã.

Anseias pelo sol que te aquecerá as pedras e te encherá de luz. Pelas tuas ruas caminham em passos modestos, corpos que o tempo envelhece, cheios de uma alma de criança, por vezes cansados das lides da serrania, por vezes felizes porque a vida existe e porque o sol nasceu após a noite escura. A teus pés os campos com oliveiras de onde brota esse ouro liquido que nos enche de sabor as delicias que, com as mãos desta terra, são criadas para deleite de quem te visita Marialva.

dfc74bd0b2afeae74565a2d3609c9faa

O sol desponta, por entre o rendilhado das tuas pedras e a luz assume o seu poder, e tu, qual Maria destas Beiras, enches-te de uma luz alva que ilumina a terra como se fosses um farol.

És Marialva e és misteriosa como uma ninfa.

Quem visita esta aldeia entra num mundo onde o tempo parece quedo, onde o mundo não entra e onde podemos respirar. É avassalador passear pelas tuas ruínas cheias de histórias para contar. Fecho os olhos e consigo ouvir as pessoas de outrora a correrem pelas ruas, os pregões, os gritos de vida que te preencheram e faziam de ti uma das mais importantes vilas da região, tão antiga que ainda anão foi datado o teu nascimento.

5a385bf836534cda174c284d24d02e3d

No alto o teu castelo ergue-se imponente, sentinela do vale, protetor das suas gentes, aos seus pés as muralhas ovaladas abraçam a cidadela, e aqui o teu povo sentia-se seguro. Tens igrejas, capelas, cantos e recantos que encantam quem te visita. Mas tens mais, muito mais.

2755f9255310ff41b5d107efd84c4b78

Marialva tem alojamento de qualidade, gastronomia de perder a noção do tempo e paisagens de arrancar o fôlego, e se outrora foi um dos principais pontos de estratégia de defesa da nação, hoje integra o grupo de Aldeias que faz parte do núcleo das Aldeias Históricas.

Marialva, no concelho de Mêda, deve ser visitada, apreciada, cheirada e vivida, seja em que época for.

No Inverno o frio envolve as suas terras e oferece-nos o aconchego de uma casa quente e uma bebida reconfortante, mesmo o ar gélido nos desperta a alma e os sentidos. Na Primavera o bailar das cores no vale são uma tela pintada pelas mãos da natureza. No verão as noites quentes convidam a longas conversas numa varanda. E no Outono o vale enche-se de bronze e pinceladas de castanho, ocre e vermelho.

22088cd6efb4ed0b2c00a25cd39aa865

Marialva quer gente e merece ser visitada, seja pelo seu castelo, pela sua muralha, pelas casas pintadas de branco ou pelas paisagens que se estendem até onde o olhar já não alcança. Visite. Viva. Vale a pena!

Fotografia: Aldeias Históricas de Portugal

Continue a viagem:

https://heartbeat.pt/linhares-beira/