Pelos olhos de Linhares da Beira

Majestoso no alto da sua colina, protege os vales aos seus pés.

O Mondego é seu aliado e mesmo que por estes lados os mouros já não façam tremer os seus súbditos, no seu trono há maravilhas que ninguém pode conquistar, apenas desfrutar, apreciar e preservar. Linhares da Beira é especial.

Aqui do alto o pôr do sol é um espetáculo que não se pode perder, e nas manhãs em que a neblina serpenteia lá em baixo, escondendo as povoações e transformando a paisagem num vasto lago intocável, neste trono podemos ser espetadores privilegiados.

Há quem venha até estas terras porque aqui podemos voar como os pássaros. Bem do alto da colina que se ergue atrás de nós. Saltado como águias de asas abertas, para um precipício etéreo que se estende até onde os olhos alcançam. Antes um campo de linho, hoje a Capital do Parapente.

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A história por estas terras é parte integrante da alma das suas gentes porque aqui o tempo parou.

As ruas de pedra contam histórias ao ritmo do nosso caminhar. Quando passeamos por elas, estreitas e misteriosas, sabemos que no final delas o vamos encontrar sumptuoso, ainda majestoso, o castelo de Linhares da Beira.

Linhares da Beira poderia ser como as outras Aldeias Históricas que existem na região da Serra da Estrela. Podia, mas não é. Linhares é misteriosa, queda no seu palrar, obriga-nos a procurar recantos, desvia-nos o olhar enquanto caminhamos, e mesmo que as casas nos pareçam iguais às outras, de tantas aldeias por esta serra, aqui, a cor é diferente. O cheiro e o cantar da água aguça-nos os sentidos e, nos dias gélidos do Inverno rigoroso da Serra, quase podemos ouvir o cantar de donzelas, batalhas milenares e reuniões de nobres senhores que viviam por esta terra que deve o seu nome ao Linho que aqui se cultivava.

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Terra de grandes batalhas que forjaram a nação, defensor dos seus e dos vizinhos.

Na Primavera Linhares da Beira convida pelas suas paisagens. Aqui é possível provar algumas iguarias beirãs e, aqui nesta pequena aldeia, podemos encontrar um dos melhores restaurantes da região, o Cova da Loba onde os sabores tradicionais são apresentados numa ode moderna à gastronomia.

Em Linhares ande a pé. Deixe-se perder, porque a certeza é que se encontrará, seja nas pedras da calçada, seja na água, seja no granito omnipresente, ou no Castelo assente no rochedo, ou na paisagem que se vai alongar a seus pés. Percebe-se porque foi escolhido este pedaço de mundo por tantos povos e cobiçado por tantos outros, aqui a nação estende-se até onde os olhos não conseguem alcançar mais!

 

Fotografia: Aldeias Históricas, Clube Vertical

 

 

 

Castelo Rodrigo, a aldeia dourada  

Subimos uma pequena colina porque lá no alto uma pepita de ouro nos espera.

A viagem é curta mas a espectativa é grande. “É muito bonita a aldeia, vais ver que te vai surpreender!”, eu sei que nas Beiras há aldeias, como um pouco por todo o país, bastante pitorescas e interessantes com cantos e recantos que nos deslumbram, “ah mas esta é especial!”, veremos então se é assim tão peculiar.

Chegados à porta de entrada da aldeia começo a perceber o que há ali de tão único.

Não são apenas as construções de pedra que dão personalidade à aldeia.

Entramos por uma pequena porta de estilo medieval, somos recebidos por ruelas estreitas, perfeitamente cuidadas e arrumadas como se de uma sala se tratasse. É primavera e há flores a adornar as fachadas das casas, formando um quadro onde nos queremos perder. À semelhança de muitas das aldeias destas Beiras, a tranquilidade impera e são poucos os habitantes que acolhem quem visita estas terras. Algumas pessoas de mais idade abeiram-se à porta das suas casas e levantam a mão a quem por aqui passa, com um sorriso humilde e sincero de quem agradece a visita e se orgulha da sua aldeia. E podem encher-se de vaidade.

Castelo Rodrigo, no alto da sua colina, vigia as terras lusas e é, verdadeiramente bonita.

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Caminhamos pelas ruas estreitas e poderíamos jurar estar a passear por um pequeno jardim.

Com cantos e recantos a cada esquina e muitos fantasmas a acompanhar os nossos passos, como só aldeias iguais a esta, com tamanha riqueza histórica podem ter. Por cá passaram reis, soldados e peregrinos. Heróis e traidores. Religiosos e donzelas. Contos e lendas, estórias da história que fazem estas gentes e povoam de misticismo as ruas, as casas e as pedras da aldeia de Castelo Rodrigo.

Caminhei tranquilamente pelas ruas de ocre luminoso. Observei as casas numa arquitetura delicadamente recuperada. Faz parte das Aldeias Históricas, e é um deslumbre. Subimos as ruas e vimos a igreja matriz, lá perto as ruínas de um palácio mandado construir por Cristóvão de Moura, que se dava bem com os Felipes do outro lado da fronteira e que findo o domínio espanhol também se findou o palácio às mãos do povo cujo coração, apesar de alguns tropeções no passado, já se tinha rendido à alma lusitana. Restam as ruínas desse edifício que enchem de um fantasmagórico fascínio esta parte da aldeia.

São belas estas ruínas e criam um ambiente único, quase teatral, que atrai os visitantes e os faz sonhar.

Há muito para ver nesta pequena aldeia amuralhada, parte do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda. A miscelânea de estilos na construção dos seus edifícios, uns manuelinos, outros árabes, pincelados de estilo romano, marcas de quem por aqui passou, se instalou e seguiu pelas páginas da história que forjou a nação e que marcou as terras e as gentes da região da fronteira. Para ver, apreciar e incluir em sonhos, a igreja-matriz do séc. XIII e Igreja e Convento de Santa Maria de Aguiar e ainda o Poço-Cisterna.

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O dia passa rápido e ao anoitecer, quando o sol se aproxima do ocaso, a luz dourada dos seus raios ilumina de ouro a aldeia que resplandece como uma arca do tesouro.

A luz é uma presença constante na aldeia, e mesmo na hora do lusco-fusco ela nos presentei com uma Castelo Rodrigo nova, envolta de mistério. Nos pontos mais altos da aldeia temos vista até ao fim do mundo e o pôr do sol é um espetáculo oferecido pelos deuses.

 

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“Então o que te parece a aldeia? Tinha ou não tinha razão?”

Sei que estes povoados foram edificados no topo das colinas como estratégia de defesa, já que do alto se conseguiam mirar os inimigos, mas gosto de pensar que quem o fez, fê-lo porque no final do dia, quando o sol beija as montanhas ao longe, o tempo para apenas para nós que temos o privilégio de estar aqui, no alto deste pedaço de terra pintado de ouro.

Fotografia: www.aldeiashistoricasdeportugal.com

Paremos para um Folgosinho de ar!

Subimos a Serra por entre estradas sinuosas, envoltas numa paisagem deslumbrante. Paramos para um Folgosinho de ar.

Pelo caminho, em dias solarengos, conseguimos que o nosso olhar alcance terras do Douro.

Continuamos a nossa viagem, passando por uma ou outra aldeia no sopé norte da Serra da Estrela. Gouveia já ficou para trás e ao fundo podemos ver Fornos de Algodres e Celorico da Beira. Somos forçados a parar, a estrada foi invadida, afinal por aqui o trafego por vezes é intenso, e as ovelhas têm prioridade nestes caminhos.

Conduzidas por um Pastor de capa ao ombro que, mesmo em dia de calor, a segura por uma mão calejada enquanto que a outra palmeia o caminho com ajuda de um cajado que, a par de um ou dois cães de raça Serra da Estrela, lhe faz companhia durante os dias e o ajuda a conduzir o seu rebanho pelos pastos da Serra.

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Chegamos ao nosso destino. Uma pequena aldeia na Serra. Os caminhos são estreitos e um dos primeiros edifícios que nos acolhe é a Igreja Matriz. Pequena e singela, humilde na traça mas calorosa em fé. Envolvida por um Adro onde as pessoas da aldeia se encontram e passam parte do seu dia, este Adro é a sala de estar do povo, rodeado de árvores frondosas que proporcionam uma apetitosa sombra em dias de calor, e mesmo despidas no Inverno, ornamentadas de neve, este pequeno espaço central na aldeia é o local mais convidativo e onde todos os caminhos embocam. Passamos o Adro e vemos a capela que acolhe os santos e as almas.

Todas as aldeias têm a sua capela, faz parte das suas gentes e tradições e é por causa dela e da sua Santa que todos os anos, no primeiro fim-de-semana de Setembro a aldeia se veste de festa e durante três dias.

Os filhos desta terra reencontram-se entre abraços de saudade e orações de fé. A Nossa Senhora do Socorro ajuda os seus filhos e estas gentes agradecem-lhe, pelas mãos de cada geração, com uma celebração que, mais que de fé, é de reencontro.

Seguimos pelos caminhos, numa espécie de altar, como que a velar por todos os que por estes lados passam, está uma espécie de Posto de vigia, O Castelo. Pode não ser um Castelo ostensivo, com grandes torres ou muralhas, mas defendeu estas terras dos mouros e protegeu as suas gentes dos ataques do inimigo.

Reza a lenda que nestas terras nasceu Viriato, o destemido lusitano. Anos mais tarde a terra terá sido visitada por El-Rei em pessoa, não se sabe ao certo de D. Afonso Henriques se o seu filho D. Sancho I. Mas seja como for, a aldeia no meio das pedras terá sido visitada pela mais alta figura nacional, que aqui terá descansado, aquando das suas batalhas com os mouros, bebido das águas puras de uma fonte que terá nascido milagrosamente, e nesta aldeia terá dito aos seus soldados para tomarem um Folgosinho do ar mais puro que encontrara.

O Castelo, posto de vigia, ou miradouro, permaneceu por cá, já não defende as gentes lusas, mas proporciona a quem o visita, vistas únicas, uma paisagem que de tão deslumbrante nos tira o ar, e nos força a tomar um Folgosinho.

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Esta é uma aldeia de fortes costumes, com uma história secular riquíssima, sendo que durante séculos fora uma das principais povoações do reino. Por cá passaram reis, senhores da corte e conspirações já no séc. XX.

Hoje passam por cá turistas. Milhares de turistas durante o ano. Será, a par de aldeias como o Sabugueiro ou o Piódão, a aldeia mais visitada da Serra da Estrela. Não apenas pelas suas casas de pedra, ou as suas ruelas irregulares, pelo seu Castelo, ou pelas paisagens deslumbrantes, mas por um local que começou como uma pequena tasca. Nesta pequena tasca, comandada pelas mãos do Sr. Albertino e da Sr. Emília, os petiscos gastronómicos da Serra ganharam louvores tais que cá acorrem, a este que agora já não é uma tasca, mas um verdadeiro empreendimento de Turismo Rural, mais conhecido pelo seu Restaurante, “O Albertino”, milhares de pessoas ao longo de todo o ano. Imortalizado pelos seus cinco pratos que fazem as delicias dos visitantes.

Aqui a gastronomia serrana é rainha e os produtos locais são uma prioridade.

As receitas têm muitos anos, mantendo-se praticamente inalteradas e confecionadas por gentes de cá, que lhes conhecem os segredos. Não é luxuoso “O Albertino”, mas também não é luxo que os visitantes procuram, aqui o que se quer é aquilo que se recebe, genuinidade, sabor e muita simpatia, à boa maneira beirã.

No final do repasto composto por cinco pratos o melhor mesmo é caminhar pela aldeia, comecemos por fazê-lo a pé, para ajudar a fazer a digestão, e se nos dias mais quentes não adormecer numa sombra, ou se no inverno não se refugiar à lareira de uma das casas de turismo rural que aqui existem, deixe-se levar pelas ruas, na companhia de alguns cursos de água que serpenteiam por lá, delicie-se com as muitas fontes que por aqui existem, e reflita nos seus dizeres. “Água e mulher só boa se quer”, “Oh Fonte dos limos verdes, que me dera a tua sina, és velhinha e nunca perdes o teu palrar de menina”, estes são apenas alguns dos dizeres que encontrará nas fontes da aldeia.

Se se sentir capaz de aventuras aconselho a que pegue no carro e se embrenhe na serra. Suba pelas estradas que levam à parte desabitada da aldeia. Aqui a Serra da Estrela irá desvendar-lhe paisagens deslumbrantes onde se quererá perder.

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Folgosinho é uma das aldeias mais conhecidas da Serra da Estrela, e quem a visita sabe porquê.

Não é apenas pelas paisagens nem pela boa comida. É pela senhora de lenço negro que se deixa aquecer pelo sol no Adro. É pelos velhotes que jogam às cartas frente ao restaurante. É pelas ovelhas acompanhadas do seu pastor e do seu fiel amigo. É pela bucólica paz que a envolve, pelas suas tradições e pelas memórias que guarda e que proporciona.

Pode estar a ficar despovoada de quem a cuide durante os dias, mas enche-se de calor com os seus filhos que todos os anos retornam e que teimam em fazer com que a sua alma perdure mais uns séculos, e ao fim-de-semana, seja de verão seja de inverno, enche-se de gentes que vêm de todos os cantos do país, e não só, levando as suas lendas e espalhando-as por todas as partes, levando os seus sabores e ansiando voltar o quanto antes. E mesmo que a subida seja dura, sabe-se que aqui, no alto da serra, numa terra construída no meio das pedras brancas, se poderá sempre tomar um Folgosinho de ar!

Fotografia: Manuel Ferreira Fotografia

TT na Serra é inspiração

O ronronar do motor. Damos à chave e o som percorre-nos as veias. Cresce a ansiedade e o corpo antecipa a chegada da adrenalina que em breve o irá invadir. O destino? O melhor do mundo, a paisagem irregular da Serra da Estrela. O veículo?

Só pode ser um Todo-o-terreno! Pé no pedal e lá vamos nós. Na Serra da Estrela o problema está em decidir qual o percurso, a única garantia que temos é que seremos invadidos por uma onda de epinefrinas que nos fará tão felizes!

Partimos pelo asfalto até ao nosso destino. Pelo caminho somos acompanhados pelas paisagens da Serra. É primavera e a montanha enche-se de cor. Abrimos a janela do jipe e deixamo-nos abraçar pelo vento fresco que se junta ao calor do sol numa sinfonia perfeita.

A primavera é das alturas ideais para pegar no jipe, juntar alguns amigos e partir à aventura, descobrindo caminhos e novas paisagens, e a Serra da Estrela consegue surpreender-nos sempre, seja pela fauna ou pela flora, seja pelas pequenas nuances de luz e cor que bailam por entre a vegetação, seja pelo cantar dos cursos de água que serpenteiam a Serra.

Subimos pela montanha, saímos do asfalto e entramos pela serra dentro. Calmamente enfrentamos os socalcos do terreno, não por medo mas porque devagar apreciamos a paisagem com a devida calma. Deixamos o pó atrás de nós a marcar o caminho, passamos por cursos de água e sentimos o salpicar das gotas no rosto.

Parámos. Saímos do jipe e aproveitamos para sentir o sol percorrer-nos o corpo, aquecendo a alma e enchendo-nos de energia.

Ao longe uma águia voa, e com sorte poderemos ver uma ou outra raposa. Sacamos da máquina fotográfica e fazemos uns cliques, tentamos captar os momentos, prender a paisagem para mais tarde relembrarmos este dia.

Entramos novamente no jipe, apertamos os cintos e continuamos a nossa viagem. Subimos o mais alto que podemos, hoje queremos estar perto do céu e na Serra da Estrela há vários locais onde podemos ter essa sensação quase vertiginosa de estar no topo do mundo, e que mundo maravilhoso é. À nossa volta a paz dos dias da Serra, o silêncio ensurdecedor da natureza. Sabemos que temos de voltar, mas a vontade é pouca.

Ao entardecer regressamos, as cores mudam, a luz transfigura-se e somos espetadores privilegiados de um espetáculo capaz de nos fazer parar a respiração e levitar.

Voltamos ao asfalto. A noite já caiu. Pelas bermas da estrada conseguimos vislumbrar pequenos brilhos, são olhos que correm pelos caminhos e se refugiam nos campos envoltos pelo negro da noite. Podemos parar e ouvimos os pios dos pássaros que se preparam para dormir. Ouvimos o concerto das cigarras, e os ruídos dos animais da noite que se juntam ao ronronar do motor.

Desligamos o motor.

Voltaremos em breve.

O TT na Serra é mais que um desporto, mais que um passatempo. Quando experimentamos a certeza é de que se instalará uma ansia constante que só desaparecerá quando voltarmos a entrar no jipe, ligarmos o motor e seguirmos pelo caminho que a serra escolher para nós nesse dia.

 

 

Conheça a Rota do Dão

Se há produto que melhor publicita Portugal além-fronteiras esse produto é o vinho, e se a tradição ditava que esse vinho era o Vinho do Porto, bem, é caso para dizer que a tradição já não é o que era, uma vez que são muitos os vinhos que têm dado cartas além-fronteiras demonstrando que Portugal é muito mais que Vinho do Porto e que por cá sabemos bem o que fazer com as uvas.

Alguns dos vinhos que têm marcado a posição de Portugal no panorama vínico mundial são os Alentejanos ou os Verdes do Minho, no entanto, de há uns anos para cá, vinhos como os produzidos na região demarcada do Dão, têm demonstrado que a variedade de produções neste pequeno território europeu é vasta e de grande qualidade. Temos sabido aproveitar as dádivas que a natureza nos preparou da melhor maneira, e a natureza foi generosa com a região do Dão.

A região demarcada do Vinho do Dão não é muito extensa e existe por um capricho da natureza que, graças às formações montanhosas, nos ofereceu este pequeno pedaço de terra onde é possível produzir-se vinho de qualidade superior e diferenciador. É uma região de relevo acidentado, solarenga, com cerca de 20 000 hectares de vinha e apesar de não ser muito extensa consegue abranger os distritos de Coimbra, Guarda e Viseu.

O turismo em torno do vinho tem sido uma grande aposta das regiões onde este produto ganha maior relevo, e o público agradece, isto porque quem aprecia vinho, e sublinhe-se que apreciar é diferente de beber, gosta de saber como o vinho é feito e quem o faz e gosta de conhecer as histórias e a cultura em torno da sua produção.

Sabendo disto, e reconhecendo o seu valor enquanto património turístico, a Comissão Vitivinícola do Dão criou a Rota dos Vinhos do Dão.

Oferecem agora a possibilidade, a quem visitar a região, de conhecer o Património Vitivinícola da região demarcada, os seus atores e os seus produtos, demonstrando que este pedaço de Portugal não é apenas vinho, e que o vinho do Dão não existe por si só, sendo o resultado de um conjunto de fatores, como a cultura, património geográfico, cultural e gastronómico, que o tornam tão especial.

A Rota dos Vinhos do Dão está dividida em 5 Roteiros. O primeiro que nos leva até Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim. O segundo que nos convida a visitar as Terras de Azurara e Castendo. O terceiro roteiro leva-nos até Terras de Besteiros. O quarto até Terras de Alva e, por fim, o quinto roteiro que nos convida a visitar Terras de Serra da Estrela.

Podíamos falar acerca de todos eles, mas hoje vamos apenas falar da parte da Rota que fica no coração da mesma.

Hoje vamos até ao concelho de Nelas, terra de excelência do Vinho do Dão.

O vinho não tem que ser um universo restrito apenas a alguns, limitando-se o consumidor a remeter-se à sua ignorância e a apenas consumir. Hoje em dia o convite feito vai no sentido de se ficar a conhecer o seu universo de modo a sermos capazes de realmente apreciar um bom vinho, muito mais do que apenas bebê-lo.

Este Roteiro convida-nos a conhecer o mundo do vinho, as suas castas, o modo como é apanhado, tratado e cultivado, a forma como são colhidas as uvas e escolhidas para que façam parte do resultado final que se quer de excelência. Esta Rota convida-nos a entrar no universo que faz o Vinho do Dão. Como podemos ler no guia da Rota dos Vinhos do Dão, “em qualquer um dos percursos da Região, o melhor guia que se pode encontrar é um Vinho do Dão. Porque descobrir a natureza ou a obra dos homens é encontrar o mesmo equilíbrio que existe num Vinho do Dão. Porque descobrir um tinto ou um branco do Dão é encontrar um queijo Serra da Estrela, a maça Bravo de Esmolfe, o cabrito, a doçaria e os enchidos que melhor o acompanham”.

O vinho quer e exige companhia, não existe por si só, do mesmo modo que um homem não é uma ilha.

Tiremos um par de dias e vamos até ao concelho de Nelas, perto de Viseu, pequeno em território mas grande em histórias, cultura e claro está, em vinho. Aqui o Vinho do Dão é apenas o ponto de partida, a desculpa para uma viagem pelos sabores, culturas e tradições de gentes que vivem e respiram esta terra. Aqui o respeito pela natureza é enorme, não fosse ela a mãe do seu sustento e a mãe deve ser respeitada. O concelho cresceu e forjou-se sob as demandas do vinho, com muitos produtores e famílias seculares que fundaram estas terras e as esculpiram.

Há gente empreendedora por estas terras que apostaram em manter vivo o património e as suas culturas.

Exemplo de empreendedorismo e de como é possível manter-se vivo um edifício secular é o Paço dos Cunhas de Santar, onde damos início ao nosso périplo por alguns locais de referência cultural, gastronómica e, claro está, vínica de Nelas.

Datado de 1609 este Paço, na Vila de Santar, é uma das pérolas do enoturismo no Dão. Especial e nobre, com um espólio riquíssimo de peças de decoração e arquitetura e com uma vivência orientada para enaltecer os seus vinhos, é o local ideal para começarmos a nossa Rota.

No Paço dos Cunhas de Santar, propriedade da Dão Sul, podemos visitar a Vinha e a Adega, aproveitando para provar alguns vinhos que poderemos adquirir, mais tarde, na loja do Paço. Este espaço é fabuloso para eventos ou para um almoço com amigos.

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Ainda na Vila de Santar encontramos outros locais onde o vinho é rei e onde a história é rainha, como a Casa de Santar, brasonada, há 15 gerações na mesma família, local de gente da nobreza em títulos e em sabedoria, onde é feito o vinho “Memórias de Santar, Condessa de Santar”, ou então a recente Quinta do Sobral onde pode visitar uma adega mais moderna com a mais avançada tecnologia, casa de vinhos como Quinta do Sobral Vinha da Neta Tinto ou Quinta do Sobral Encruzado.

Seguimos ao final da tarde para Lapa do Lobo, onde iremos encontrar o local que nos albergará durante a noite. As Casas do Lupo é o local ideal para pernoitar, e não só, com quartos maravilhosos, conforto e com a garantia da hospitalidade beirã ao mais alto nível. No verão a piscina será o local ideal para terminar o dia, deliciarmo-nos com um jantar delicioso e retemperar forças para a viagem vínica do dia seguinte. Amanhecemos com direito a um belo pequeno-almoço com direito a iguarias gastronómicas regionais.

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A gastronomia da região é um pecado a que não podemos resistir, durante este fim-de-semana esqueça as dietas, é imperativo que coma sem restrições!

Frescos e com vontade de passear rumamos Nelas, sede de concelho, aqui vamos aproveitar para almoçar depois de uma visita à vila, aconselhamos o restaurante Bem-haja, onde a gastronomia regional é apresentada de modo divinal e onde a hospitalidade beirã está sempre presente.

Depois de almoçar sugerimos que a Rota dos Vinhos do Dão se mantenha por Nelas, visite a empresa Caminhos Cruzados onde se produzem vinhos como o “Titular Touriga Nacional” ou o “”Titular Encruzado”, esta empresa resulta da união de ideias e projetos e promete marcar Nelas como terra de vinhos de eleição, aqui poderá conhecer as vinhas, visitar a Adega e provar alguns dos seus vinhos.

Ainda em Nelas podemos visitar a Lusovini, distribuidora de serviço integrado, onde a promoção e desenvolvimento dos vinhos e dos seus produtores é o mote, fazendo uso de um vasto conhecimento para elaborar vinhos de qualidade superior e que respondam às exigências do mercado. Aqui poderá visitar a Adega, provar e adquirir alguns vinhos, como o “Pedra Cancela” ou o “Flor de Nelas”.

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Outro espaço a visitar neste nosso périplo vínico é a Vinícola de Nelas, outrora uma das maiores exportadoras de vinhos de Portugal, hoje produz a partir de uvas próprias e adquiridas a agricultores da região, os seus próprios vinhos com denominação de origem Dão, como são exemplo os vinhos “Escanção Branco” ou “Status Touriga Nacional”.

O mundo dos vinhos é fascinante e Nelas é um bom local para ficar a conhecer a história dos Vinhos do Dão.

Há muito mais para ver do que o que sugeri.

A terra é rica em restaurantes e o turismo de habitação é de qualidade. Reserve uns dias e fuja da agitação do dia-a-dia. Este verão, por exemplo, deixe a praia para segundo plano e aventure-se nesta Rota. Encontra mais informações acerca da Rota dos Vinhos do Dão em www.rotavinhosdao.pt. Aprecie, delicie-se mas lembre-se: beba com moderação!

Praia na Serra da Estrela? Vamos!

Geralmente quando nos referimos à Serra da Estrela a primeira coisa que nos vem à cabeça é a neve, não pensamos em praia.

A neve é, de facto, uma grande atração, mas é apenas uma pequena parte daquilo que a região tem para oferecer, até porque só há neve durante uns meses ou, em alguns anos, durante apenas algumas semanas.

A Serra da Estrela é mais do que isso e no verão a oferta é muita! Com rios e barragens, parques de campismo e turismo rural de excelência, a região é, para muitos, o destino ideal, até porque nem todos gostamos de praias e gente amontoada nos areais, filas de trânsito intermináveis e sol abrasador.

Na Serra o verão é verdadeiramente relaxante.

Nos últimos anos temos assistido a uma forte aposta por parte de diversas entidades na dinamização e construção de Praias Fluviais. Locvais que aproveitam a excelente qualidade das águas que brotam na Serra e as paradisíacas paisagens circundantes. Praias que oferecem a oportunidade aos visitantes de disfrutarem de momentos idílicos.

Tal é a qualidade das Praias da região que todos os anos algumas são galardoadas com a Bandeira Azul. Esta bandeira distingue as praias e portos de recreio e marinas que se candidatam e que cumprem um conjunto de critérios como informação e educação ambiental, qualidade da água, gestão ambiental de equipamentos e segurança e serviços. Na região da Serra da Estrela, encontramos praias fluviais que reúnem estas condições e que são contempladas, já há vários anos, com a Bandeira azul que atesta a qualidade das mesmas.

Este ano as Praias Fluviais contempladas não surpreenderam, já que são repetentes nesta atribuição e são, de facto, belíssimas!

Praia Fluvial de Loriga

Na região de Seia, em Loriga encontramos uma praia maravilhosa, foi finalista no concurso “7 maravilhas – Praias de Portugal” e é a única praia portuguesa situada num vale glaciário, aliás ainda se podem ver vestígios desse glaciar. Está enquadrada numa paisagem fantástica e possui água de excelente qualidade, puras e cristalinas que lhe valeram a atribuição, por parte da Quercus de “Qualidade de ouro”.

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Praia de Alvoco das Várzeas

Em Oliveira do Hospital encontramos a Praia de Alvoco das Várzeas, de água cristalina, envolta por um parque de merendas protegido por arvoredo que protege os visitantes nos dias quentes de verão. As águas do rio Alvoco são frescas e serpenteiam junto a uma ponte medieval que completa a paisagem privilegiada para a Serra da Estrela.

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Praia de Valhelhas

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Entre a cidade da Guarda e Manteigas encontramos Valhelhas. Uma vila pitoresca que, por si, só já vale a pena ser visitada. Lá encontramos uma Praia Fluvial que convida a que se passem por lá uns belos dias, já que está apoiada por um parque de campismo convidativo. Esta praia está rodeada de arvoredo, com áreas relvadas e uma zona com muitas sombras propícia para um dia de piquenique com a família! As águas do rio Zêzere convidam a mergulhos no meio dos peixes que por lá nadam.

São muitos os motivos que levam as pessoas a escolherem as frescas águas doces das praias fluviais da região em detrimento das praias de areia quente e água salgada do litoral. Portugal é muito mais que litoral, e a Serra da Estrela é um ótimo destino para descansar em familia. Tem sol, calor, paisagens de cortar a respiração, natureza luxuriosa e praia. Que mais podemos pedir?

Fotos: sesimbraportugal.blogspot.pt, toloriga52.blogs.sapo.pt e ccdrc

Piodão, O pior do mundo é do melhor que há

É primavera na Serra. A neve começa a derreter, a vegetação começa a brotar, lentamente, renascendo do seu estado letárgico ao qual se votou nos últimos meses.

São pequenas flores as que nascem um pouco por todo o sopé da montanha, cobrindo-a de um manto colorido. Ouve-se em toda a parte o chilrear dos pássaros e pequenos animais pululam pelas rochas e cruzam-se nos nossos caminhos. As ovelhas voltam a encher a paisagem com as suas melodias e a vida volta a sentir-se junto aos rios e riachos. São vistas bucólicas, desenhadas pelo lápis mestre da natureza, e em dias presenteados pelo sol, não podemos deixar de sair, é mais forte que nós este apelo da natureza. Vamos até ao Piódão!

Na serra a Primavera é convidativa dos sentidos. Faz-nos perder pelas paisagens. Aqui a Primavera é introspetiva e enche-nos de vida. Entremos pela Serra, deixemo-nos desvendar os seus segredos e tornarmo-nos parte deles.

Hoje vamos até à Serra do Açor. Encostada à Serra da Estrela e à Serra da Gardunha. Vamos descobrir uma das suas preciosas pérolas. Uma pérola negra, sedutora, simples e de alma tão lusitana.

Hoje vamos até à Aldeia Histórica de Piódão.

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Aldeia que parece escorrer como uma cascata pelo sopé da montanha, descendo num rio de pedras negras de xisto, tão perfeitamente desenhada que se torna parte integrante da paisagem.

Os nossos sentidos são invadidos pelo som das ribeiras que por ali dançam entre as rochas, numa banda sonora natural que se complementa com o cenário que nos lembra um presépio.

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Entremos na aldeia, subimos pelas suas ruelas ingremes, estreitas e tortuosas que formam recantos numa estrutura de malha cerrada, sempre acompanhados por um fio de água a que chamam “A Levada”.

No meio do casario escuro de alvenaria de pedra de xisto sobressai a Igreja Matriz de branco imaculado que abençoa as terras e as gentes. Pequenos salpicos de azul aparecem aqui e além, nas janelas, portas ou chaminés.

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Respiramos o ar puro da Serra e deixamos a imaginação fluir. Um bom local para passeios românticos ou em família, com liberdade para deixar os mais pequenos explorarem um mundo que começa a ser coisa rara.

Outrora esta terra era vista como um local de refúgio e isolamento do resto do mundo, e contam os antigos que quando um criminoso escolheu estas terras para se esconder da justiça, terá dito à família que estava num local longínquo, referindo-se a este local como o “pior do mundo”. Foi terra de bandidos e foras da lei e terra de gente abastada da nobreza. Hoje é um deleite para os turistas que encontram, neste pequeno mundo, um local de grande beleza e ideal para se passar uns dias harmoniosos.

Para pernoitar sugerimos a Casa da Padaria, situada na Aldeia ou então, se preferir fique instalado no Hotel do Inatel do Piódão. Para jantar ou almoçar, sugiro o Solar dos Pachecos que serve uns petiscos muito bons.

O Piódão vale a pena ser visitado no inverno ou no verão, mas na primavera a sonoridade e as cores aliam-se a um sol terno e acolhedor. Visite, viva e respire este local. A certeza que fica? A de que voltará um dia…