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De Castelo Rodrigo até Marialva

Mesmo para quem não gosta de caminhar há rotas que valem a pena ser percorridas pela sua beleza e por aquilo que nos fazem sentir e descobrir.

Hoje vou falar-vos acerca de uma das Rotas que unem duas Aldeias Históricas na região da Serra da Estrela.

A Serra por si só está cheia de paisagens de tirar o fôlego e de cantos e recantos de mistério que apaixonam quem tem a sorte de os encontrar e reconhecer, e se juntarmos a isso a beleza e mistério das nossas Aldeias Históricas o resultado só pode ser fabuloso e, como disse, mesmo que não seja adepto das caminhadas, estas rotas valem a pena pela experiência a elas associada, a experiência da vivência da própria Serra, dos seus sons, aromas e cores.

Começamos o nosso percurso na dourada aldeia de Castelo Rodrigo, deixando para trás as suas belas ruínas e casarios rumo a outra pérola desta Serra, Marialva. Esperam-nos cerca de 35 km, são 9 horas de viagem, o dia está por conta da nossa vontade e força nas pernas.

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Deixando Castelo Rodrigo seguimos em terra batida rumo ao vale do Côa, contornando a Serra da Marofa.

Ao entroncar com a estrada alcatroada que faz a ligação de Cidadelhe às aldeias da margem direita do rio e quando chega ao portão da Reserva da Faia Brava, juntando-nos à Grande Rota do Côa para atravessar o rio e subir a encosta. Separamo-nos dela antes de chegar a Ribeira Brava.

A área protegida da Faia Brava é um local imperdível, sendo um lugar onde podemos ver a recuperação dos habitats endógenos a funcionar.

Entremos e deliciemo-nos com os garranos, os bovinos maroneses e com as muitas espécies de mamíferos selvagens que aqui habitam. No alto, lá nos céus, as aves de rapina roubam-nos a atenção. Por aqui voam grifos, águias-cobreira, águias-calçada e o milhafre preto.

Continuemos o nosso caminho, deixando, temporariamente, a estrada para depois a cruzar ao entrar no vale da Ribeira do Porquinho e subir à localidade de Juízo.

Continuamos agora em alcatrão num percurso que atravessa a ribeira de Massueime para chegar à Gateira, seguindo terreno plano e em terra batida até junto das rotundas de acesso ao IP2.

Deixamos o alcatrão e aproximamo-nos de Marialva passando pela Devesa.

Pelo caminho até Marialva passamos pela albufeira de Stª Maria de Aguiar onde podemos observar as aves aquáticas que por aqui vivem, como o mergulhão –de-crista, o corvo-marinho-de-faces-brancas, o pato-real e a garça-real.

Estamos perto do Parque Natural do Douro Internacional e aqui podemos entrar numa paisagem bastante diversificada onde os matos de giestas se misturam com núcleos de azinheiras, alqueives, saganho-mouro e rosmaninhais.

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Podemos chegar cansados a Marialva, a certeza é que trazemos na bagagem paisagens maravilhosas e a vontade de fazer o caminho inverso. Descansemos em Marialva, aqui come-se e dorme-se bem. A hospitalidade beirã reina. Partiremos no dia seguinte.

As Aldeias:

https://heartbeat.pt/marialva/

https://heartbeat.pt/castelo-rodrigo/

 

Piodão, O pior do mundo é do melhor que há

É primavera na Serra. A neve começa a derreter, a vegetação começa a brotar, lentamente, renascendo do seu estado letárgico ao qual se votou nos últimos meses.

São pequenas flores as que nascem um pouco por todo o sopé da montanha, cobrindo-a de um manto colorido. Ouve-se em toda a parte o chilrear dos pássaros e pequenos animais pululam pelas rochas e cruzam-se nos nossos caminhos. As ovelhas voltam a encher a paisagem com as suas melodias e a vida volta a sentir-se junto aos rios e riachos. São vistas bucólicas, desenhadas pelo lápis mestre da natureza, e em dias presenteados pelo sol, não podemos deixar de sair, é mais forte que nós este apelo da natureza. Vamos até ao Piódão!

Na serra a Primavera é convidativa dos sentidos. Faz-nos perder pelas paisagens. Aqui a Primavera é introspetiva e enche-nos de vida. Entremos pela Serra, deixemo-nos desvendar os seus segredos e tornarmo-nos parte deles.

Hoje vamos até à Serra do Açor. Encostada à Serra da Estrela e à Serra da Gardunha. Vamos descobrir uma das suas preciosas pérolas. Uma pérola negra, sedutora, simples e de alma tão lusitana.

Hoje vamos até à Aldeia Histórica de Piódão.

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Aldeia que parece escorrer como uma cascata pelo sopé da montanha, descendo num rio de pedras negras de xisto, tão perfeitamente desenhada que se torna parte integrante da paisagem.

Os nossos sentidos são invadidos pelo som das ribeiras que por ali dançam entre as rochas, numa banda sonora natural que se complementa com o cenário que nos lembra um presépio.

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Entremos na aldeia, subimos pelas suas ruelas ingremes, estreitas e tortuosas que formam recantos numa estrutura de malha cerrada, sempre acompanhados por um fio de água a que chamam “A Levada”.

No meio do casario escuro de alvenaria de pedra de xisto sobressai a Igreja Matriz de branco imaculado que abençoa as terras e as gentes. Pequenos salpicos de azul aparecem aqui e além, nas janelas, portas ou chaminés.

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Respiramos o ar puro da Serra e deixamos a imaginação fluir. Um bom local para passeios românticos ou em família, com liberdade para deixar os mais pequenos explorarem um mundo que começa a ser coisa rara.

Outrora esta terra era vista como um local de refúgio e isolamento do resto do mundo, e contam os antigos que quando um criminoso escolheu estas terras para se esconder da justiça, terá dito à família que estava num local longínquo, referindo-se a este local como o “pior do mundo”. Foi terra de bandidos e foras da lei e terra de gente abastada da nobreza. Hoje é um deleite para os turistas que encontram, neste pequeno mundo, um local de grande beleza e ideal para se passar uns dias harmoniosos.

Para pernoitar sugerimos a Casa da Padaria, situada na Aldeia ou então, se preferir fique instalado no Hotel do Inatel do Piódão. Para jantar ou almoçar, sugiro o Solar dos Pachecos que serve uns petiscos muito bons.

O Piódão vale a pena ser visitado no inverno ou no verão, mas na primavera a sonoridade e as cores aliam-se a um sol terno e acolhedor. Visite, viva e respire este local. A certeza que fica? A de que voltará um dia…