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Para o Diabo com o medo nestas estradas!

Handerson Aguiar Engracio continua a explorar as estradas da Serra da Estrela. Hoje leva-nos numa viagem pela Nacional 338, um percurso de cortar a respiração! Apertemos os cintos!

 

II- Subir ou descer do céu?

 

Que Estrada? Nacional 338 – Lagoa Comprida- Loriga

Porquê – Condução Desportiva.

 

Entre a Lagoa Comprida, na Serra da Estrela, e a agradável aldeia de Loriga foi aberto recentemente um troço da N338 que vale a pena conhecer. A estrada é larga, tem uma visibilidade fantástica, pouco trânsito e um conjunto de curvas muito apetecíveis.

Começo no topo, perto da Lagoa Comprida o meu percurso. Primeira tarefa, olhar os sinais: 8, 10, 14% de descida. “trave com o motor”, escapatórias a cada poucos km.

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Que não haja dúvidas, a descida é perigosa. Mas o perigo transforma o nosso corpo, os reflexos, a agressividade. Não que seja um condutor hostil por natureza mas, mesmo os mais calmos, vão cerrar os dentes e carregar um pouco mais no acelerador. E o que faz desta estrada tão empolgante? É um percurso de cerca de 12 quilómetros estendido pela montanha, uma estrada ampla e sobretudo com um conjunto de curvas em apoio que se fazem a uma velocidade elevada.

Atenção!

É muito fácil ultrapassar os limites de velocidade e, como referi, trata-se de um caminho que importa respeitar dada a natureza da morfologia. ….Ah para o diabo com o medo!

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“Mais do que descrever ou ver, tudo se sente com o corpo, na ondulação da coluna e no friozinho da barriga sempre que é preciso negociar 3 curvas rápidas a poucos centímetros da ravina.”

É um regalo posicionar o carro à entrada de cada curva e, mal se começa a negociar, pé direito no fundo. Mais do que descrever ou ver, tudo se sente com o corpo, na ondulação da coluna e no friozinho da barriga sempre que é preciso negociar 3 curvas rápidas a poucos centímetros da ravina. Sim podem e devem cortar-se as viragens desde que em segurança. Algumas delas, em gancho alargado são perfeitas para sentir o carro a escorregar e os 4 pneus a pedir misericórdia.

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O meu carro, um banalíssimo Citroen C4, proporciona enorme satisfação nesta estada, mas um leitor afortunado que disponha de um veículo mais desportivo terá uns minutos em cheio tanto a descer como a subir. É que a paisagem com os vales em volta da Serra é deslumbrante e a estrada é tão íngreme que, dadas as circunstâncias, parecemos estar a descer, ou a subir para o céu.

 

Handerson Aguiar Engracio

Deus escreve certo por estradas tortas

Para muitos conduzir é uma obrigação. Algo que tem de ser feito para que possamos ir do ponto A ao ponto B. Para outros conduzir é um prazer.

Uma fonte de adrenalina onde máquina e homem são apenas um e a estrada é o seu mundo, um universo só deles de onde retiram uma experiência única e viciante. Para estas pessoas conduzir também é ir do ponto A ao B, mas pulando para o D, atravessando o P, recuando ao L e zigzagueando pelo w. As estradas são palcos perfeitos emoldurados por paisagens que complementam as sensações.

Conduzir na região é uma experiência única e quem conhece os caminhos volta, muitas vezes, só pelo prazer de por eles voltar a conduzir.

Abrimos hoje uma rubrica na HeartBeat: As melhores estradas para fazer o gosto às rodas e ao volante na região, escritas por quem adora conduzir.

 

I – O carrocel

Que estrada? N 232 – Manteigas – Gouveia.

Porquê? – Condução desportiva

 

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Na vida é frequente enveredarmos por caminhos errados. E no final aprendemos por vezes que esse era o caminho certo. Pronto, depois da apreciação New Age digna de figurar naqueles quadros com um céu nublado que aparecem no Facebook, vamos à história. Fui obrigado, enquanto me dirigia à Torre, na Serra da Estrela, a escolher uma estrada que não previa. A bela estrada entre Manteigas e a Torre pelo Vale Glaciar estava em obras sendo que a alternativa seria a N232 por Gouveia.

Lá fui, contrariado.

“O dia estava chuvoso. As nuvens passeavam pelo meio da montanha e a subida que se avizinhava parecia aborrecida. Mas afinal aquele era o caminho certo.”

 

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As primeiras curvas daquela serpente de alcatrão revelaram-se logo uma surpresa. São sinuosas, encadeadas e, com o piso molhado, alegremente escorregadias.

“Wow, o que é isto? Como é que eu nunca guiei aqui?”

Começo a subir a montanha mais depressa mas como a estrada é estreita e muito lenta não se chegam a infringir as regras. Não é preciso, para tirar prazer da condução.

 

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O carro torce-se a cada curva, é preciso cortar o centro mas, outra constatação agradável, a visibilidade é excelente e consegue-se ver o trânsito em sentido contrário ao longe. Um trânsito diminuto, diga-se. Festa de sensações dentro do carro, parece que estamos numa especial de rally, numa sucessão de viragens fechadas em que bater no vértice da curva é imperioso para não se perder a frente do carro. E quando acontece, um toque ao travão de mão e a traseira corrige. Como fazem os grandes.

“Uns quilómetros à frente esta maravilha acaba. Respiro fundo, e penso “Aqui está uma classificativa que não conheces, Sebastien Loeb”.”

A ajudar, a paisagem é deslumbrante com arvoredo de grande porte a criar a pintura perfeita. Mais curvas, há um hotel e umas barracas de vendas de produtos da Serra.Lamento, não há tempo, quero devorar esta estrada. Passo por entre as nuvens, mas não abrando, é demasiada adrenalina. Uns quilómetros à frente esta maravilha acaba. Respiro fundo, e penso “Aqui está uma classificativa que não conheces, Sebastien Loeb”.

Deus escreve direito por estradas tortas.

Handerson Aguiar Engracio