Deus escreve certo por estradas tortas
Para muitos conduzir é uma obrigação. Algo que tem de ser feito para que possamos ir do ponto A ao ponto B. Para outros conduzir é um prazer.
Uma fonte de adrenalina onde máquina e homem são apenas um e a estrada é o seu mundo, um universo só deles de onde retiram uma experiência única e viciante. Para estas pessoas conduzir também é ir do ponto A ao B, mas pulando para o D, atravessando o P, recuando ao L e zigzagueando pelo w. As estradas são palcos perfeitos emoldurados por paisagens que complementam as sensações.
Conduzir na região é uma experiência única e quem conhece os caminhos volta, muitas vezes, só pelo prazer de por eles voltar a conduzir.
Abrimos hoje uma rubrica na HeartBeat: As melhores estradas para fazer o gosto às rodas e ao volante na região, escritas por quem adora conduzir.
I – O carrocel
Que estrada? N 232 – Manteigas – Gouveia.
Porquê? – Condução desportiva
Na vida é frequente enveredarmos por caminhos errados. E no final aprendemos por vezes que esse era o caminho certo. Pronto, depois da apreciação New Age digna de figurar naqueles quadros com um céu nublado que aparecem no Facebook, vamos à história. Fui obrigado, enquanto me dirigia à Torre, na Serra da Estrela, a escolher uma estrada que não previa. A bela estrada entre Manteigas e a Torre pelo Vale Glaciar estava em obras sendo que a alternativa seria a N232 por Gouveia.
Lá fui, contrariado.
“O dia estava chuvoso. As nuvens passeavam pelo meio da montanha e a subida que se avizinhava parecia aborrecida. Mas afinal aquele era o caminho certo.”
As primeiras curvas daquela serpente de alcatrão revelaram-se logo uma surpresa. São sinuosas, encadeadas e, com o piso molhado, alegremente escorregadias.
“Wow, o que é isto? Como é que eu nunca guiei aqui?”
Começo a subir a montanha mais depressa mas como a estrada é estreita e muito lenta não se chegam a infringir as regras. Não é preciso, para tirar prazer da condução.
O carro torce-se a cada curva, é preciso cortar o centro mas, outra constatação agradável, a visibilidade é excelente e consegue-se ver o trânsito em sentido contrário ao longe. Um trânsito diminuto, diga-se. Festa de sensações dentro do carro, parece que estamos numa especial de rally, numa sucessão de viragens fechadas em que bater no vértice da curva é imperioso para não se perder a frente do carro. E quando acontece, um toque ao travão de mão e a traseira corrige. Como fazem os grandes.
“Uns quilómetros à frente esta maravilha acaba. Respiro fundo, e penso “Aqui está uma classificativa que não conheces, Sebastien Loeb”.”
A ajudar, a paisagem é deslumbrante com arvoredo de grande porte a criar a pintura perfeita. Mais curvas, há um hotel e umas barracas de vendas de produtos da Serra.Lamento, não há tempo, quero devorar esta estrada. Passo por entre as nuvens, mas não abrando, é demasiada adrenalina. Uns quilómetros à frente esta maravilha acaba. Respiro fundo, e penso “Aqui está uma classificativa que não conheces, Sebastien Loeb”.
Deus escreve direito por estradas tortas.
Handerson Aguiar Engracio
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