A Estrada perfeita para Fugir
Há dias, momentos da vida em que, de forma desesperada, temos uma vontade de desaparecer para parte incerta.
Desligar o telemóvel, esquecer os e-mails e redes sociais, apagar dos olhos as paisagens de sempre, cortar o som das vozes costumeiras e simplesmente ir. Seguir esta estrada.
Que estrada? – N 221 – Barca D’Alva – Penedo Durão
Porquê? – Ficar off line.
A internet está cheia de imagens de estradas com frases bonitas sobre isto. Esqueça a Internet. Mas leia este artigo até ao fim. Descobri o caminho para Barca D’Alva e Penedo Durão há muitos anos, quando precisava de distância de quase tudo.
Quando achar que é o seu dia de respirar fundo, coloque combustível no carro e siga sozinho em direção a Figueira de Castelo Rodrigo, depois Escalhão e finalmente Barca d’Alva.
Até lá a estrada já é agradavelmente solitária, boa para pensar, apreciar o clima e flora semidesérticos daquela região. Rádio? Erm… há poucas [ou até nenhumas] estações disponíveis. Mais vale um CD/USB com aquelas músicas deprimentes que o fazem questionar o sentido da vida.
Os Travis cantam My eyes à chegada a Barca D’Alva.
O interessante desta pequena aldeia tão isolada é que tem um pouco de Mundo com os barcos carregados de turistas que ali chegam frequentemente. O espelho do Douro reflete a beleza de uma região agreste e misteriosa.
Paro.
Três cães brincam e aproximam-se alegremente de mim enquanto fotografo o rio. “Ó bóbi não mordes pois não?”
Não.
Não morde.
Saio da primeira localidade da Nação que o Douro banha e uns quilómetros à frente viro numa pequena cortada à esquerda com uma placa que diz “Estrada do Candedo”.
Aqui começa o troço mais interessante.
A estrada tem, basicamente, a largura do carro e é esculpida nas escarpas. Há uma dose de risco, nesta estrada. Em caso de acidente o isolamento é muito real.
Mas sendo positivos, olhemos para as pedras afiadas e precipícios como uma experiência diferente, surpreendente e única. Pergunto-me “ainda estou em Portugal?” Esta paisagem lunar açambarca-me e engole o carro.
Conhece estradas sem trânsito?
Esta está 2 níveis acima disso.
Não tem trânsito, não tem pessoas, não tem nada.
Já está perdido.
Longe.
Off line.
Vá devagar.
Ou até a pé.
Agora é saborear a subida até ao miradouro de Penedo Durão e uma vez lá chegado, com o nevoeiro a passear pelos vales do Douro Internacional é altura de parar o carro, sentar-se no capô e fazer reset à alma. Volte para a civilização quando quiser.
Não tem de quê.
Handerson Aguiar Engrácio
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