Há férias para além da praia

Agosto é, por tradição, o mês das férias dos portugueses e, por tradição ou por falta de conhecimento de alternativas, a romaria nesta altura segue em direção ao pôr do sol das praias, numa busca desenfreada por um lugar no areal cheio de gente, mesmo aqueles que por esses lados vivem durante todo o ano.

Não me interpretem mal, eu gosto da praia.

Nasci no litoral e sou uma daquelas pessoas que fazem parte da tribo dos que gostam da água fria das praias do norte, vejam só! É verdade sou super fã, mas isso são histórias para outros dias.

Certo ano, por esta altura, foi decidido cá por casa que as férias não teriam água salgada. O choque! Seguido da esperança de uma viagem além fronteiras rumo a uma cidade cosmopolita dessa Europa fora, composto por uma chamada à realidade financeira dos meus parcos recursos monetários, típicos de uma jovem na casa dos 25 anos acabada de entrar no mercado do trabalho.

“Vais ver que existem férias sem mar”, rematou o meu namorado, beirão de gema.

O roteiro estava planeado por quem conhece estas terras e por quem tem orgulho em exibi-las como se fossem um prémio obtido pelo esforço de uma qualquer demanda.

“Começamos amanhã pela manhã”.

E assim foi.

Mochila com as provisões necessárias para o dia e que consistiam em sandes, bolachas e água. Máquina fotográfica em riste e a certeza de que não haveria mergulhos nem toalha estendida ao sol.

Seguimos rumo a norte do distrito até Vila Nova de Foz Côa, ainda pela estrada nacional, apreciei cada nuance da paisagem. Os olivais e os campos acastanhados pelo calor.

Junto ao Côa a fronteira do distrito, passamos pelo Pocinho e voltámos para trás. Saímos da estrada e fomos conhecer Marialva. Foi aqui que comecei a perceber o que tem de mágico a região. As suas aldeias e os seus castelos. As suas histórias e a simpatia das gentes que nos saúdam ao passar. A humildade dos seus passos e dos seus sorrisos.

Passamos a tarde por esta parte do distrito da Guarda.

“Amanhã vou levar-te a Pinhel, Almeida e a Castelo Mendo. Ainda vais conhecer o Sabugal, Sortelha, Belmonte, terra de Cabral e Judeus e Manteigas! Até pode ser que te leve a dar um mergulho!”.

E assim foi. Um dia inteiro para passear por terras do Sabugal e o seu castelo, embrenhar-me nas ruas de Sortelha. Parámos várias vezes pelo caminho apreciando as aves e as raposas que pulavam pelos campos.

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Tive direito ao mergulho na praia de Valhelhas onde acampámos pela noite.

No dia seguinte fui conhecer o Vale Glaciar do Zêzere, cujas paisagens conhecia apenas da época de Inverno e que me deslumbraram no verão.Aqui a luz é diferente e transforma a paisagem num quadro quase etéreo. O calor é intenso e as noites frescas e revigorantes. Conheci o Poço do Inferno que de infernal nada tem e o Covão de Ametade, lindo de morrer.

Os dias passaram e conheci a zona de Seia e Gouveia, a aldeia de Linhares e os corajosos que aqui ganham asas de parapente, afortunados que por momentos têm privilégios de pássaro.

Conheci pequenos tesouros onde se pode mergulhar como o Vale da Castanheira, com água gelada como eu gosto!

“Vês é tão gelada como as praias do norte”!

Por terras de Folgosinho conheci a Senhora de Assedasse e a paisagem deslumbrante que durante a noite dá lugar a um mar de estrelas sem fim!

Em Vale do Rossim fiquei surpreendida pelo azul da água, espelho do céu que ali se reflete com vaidade.

E mesmo próximo da Guarda há lagoas secretas!

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E assim se passaram duas semanas com fugas e escapadas por alguns tascos e restaurantes bem em conta, onde pude “degustar” a Serra. Acho que foram nestas férias que o meu namorado me fez apaixonar por estas terras e rendeu a minhota que há em mim aos sabores, perfumes e paisagens da Serra da Estrela.

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Hoje é meu marido, gosto de pensar que o plano dele foi sempre esse: garantir que me apaixonava por esta terra e nunca mais quisesse daqui sair, tornando-me sua mulher. Conseguiu.

Há mais que praias neste Portugal para visitar e onde podemos passar as nossas férias.

Há terras e gentes para conhecer.

Comida para provar e paisagens para descobrir.

Há todo um país que nos convida a fugir das praias salgadas e conhecer as suas raízes.

Atrevam-se a descobrir esse mundo, e ainda por cima é para toda a família!

Não fui ao estrangeiro… quer dizer…o meu marido, então namorado, fez questão de me levar até Vilar Formoso e ver a placa que diz Espanha. “Pronto já podes dizer que foste ao estrangeiro nestas férias!” por isso, tecnicamente, acabei por ir…

 

Tânia Fernandes

 

Esplanadas para que vos quero!

Se há algo que gostamos de fazer, principalmente nestes dias em que o sol nos convida a ir à rua, é sentarmo-nos numa esplanada, seja em amena cavaqueira com os nossos amigos, para ler o jornal enquanto bebericamos um café, ou para almoçar ou lanchar enquanto aproveitamos os raios de sol.

Todas as cidades possuem esplanadas e alguns de nós acabamos por ter as nossas favoritas, seja pelo atendimento ou pela envolvente, pela localização, mais ou menos discreta, ou até mesmo pela música ou pela empregada gira que nos atende com um sorriso.

Ter uma esplanada favorita é como ter um café preferido ou um bar que mais nos agrada. Tem a ver com vários fatores e ainda bem que o verão chegou porque as nossas esplanadas estão mais interessantes nesta altura e mais apelativas.

Aqui pela Guarda, local onde no verão encontramos várias esplanadas, tenho um punhado de locais favoritos, algumas delas, confesso, conforme a altura do dia ou mesmo consoante o dia da semana.

Hoje vamos, então, fazer um périplo pelos meus locais de eleição para passar uns momentos tranquilos com os amigos, para ver o movimento da cidade ou mesmo para comer alguns petiscos.

Começamos pelas frescas manhãs de verão na Guarda com o sol tímido a espreitar.

Para aquecer os ossos e prepararmo-nos para um dia de trabalho ou lazer, já que muitos podem estar de férias, sugiro que nos abanquemos numa das esplanadas com as paisagens mais bonitas desta cidade, a esplanada do Bar do Lago no Parque Urbano do Rio Diz.

 

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A vista para o lago na luz tranquila da manhã é fantástica e ajuda-nos a encher de energia um corpo ensonado enquanto bebemos um café e admiramos a coragem dos muitos que, pela manhã ,embarcam numa sessão de running pelo parque.

Esta esplanada também é muito interessante no final do dia, a não ser que, como eu, seja do tipo de pessoa que dispensa um concerto de coaxares incessantes. Para alguns pode ser até calmante, para mim, bem… não é.

Se é daquelas pessoas que gosta de tomar um café a meio da manhã, sugiro que vá até ao centro da cidade, a esplanada do Dupepe no Jardim José de Lemos é bastante interessante, com assento em pleno centro da cidade, com vista para o Jardim ou, se preferir, para o movimento de uma das zonas mais mexidas da mais alta.

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Este local também é ótimo ao final do dia se desejar comer umas tapas e beber umas cervejas com os amigos, no fim-de-semana é, igualmente, um dos locais que elejo para uns momentos de amena cavaqueira enquanto vemos as pessoas circularem pelo Jardim.

Já que estamos no centro da cidade, não posso deixar de fazer referência a uma das minhas esplanadas preferidas seja de verão seja de inverno, até porque este é um dos locais mais gulosos da cidade e onde encontramos, e desculpem-me os outros comerciantes do tipo, a melhor gelataria da Guarda.

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Mesmo no Inverno visitar a Martucci’s gelataria é uma experiência deliciosa, e não precisamos comer gelados, o chocolate quente e os crepes aqui são uma tentação, e se forem consumidos na esplanada ao pé do aquecedor e de manta nas pernas, a experiência é formidável.

No verão esta esplanada oferece um local discreto e agradável, talvez para uma sobremesa em família ou para uma conversa de negócios.

A tarde chega e a fome aperta. Neste momento do dia gosto de ir, sempre que possível, até à esplanada da Alameda, uma das maiores da Guarda, em pleno centro da cidade, perto do Hospital.

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Um espaço amplo e, sem dúvida, um dos mais bonitos da Guarda, com vista para a histórica fonte. Aqui podemos lanchar e petiscar enquanto bebemos uma cerveja e damos dois dedos de conversa.

A noite cai e, acreditem ou não, na Guarda até que há noites mais amenas e convidativas a uma bebida fresca em boa companhia.

No final de jantar e, principalmente ao fim-de-semana, gosto de me juntar com um bom punhado de amigos e ir até um local discreto onde o serviço é de qualidade e o ambiente descontraído.

No centro da cidade a minha esplanada de eleição é a do Bar “O Praça”, enquanto muitos ficam pelas esplanadas da Sé, acerca das quais não tenho nada contra, eu prefiro o recanto deste Bar, com ambiente jovem mas familiar, que garante umas horas muito bem passadas.

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Para acabar a noite em grande sugiro a esplanada do Bistro Bar In&Out ao pé da Central de Autocarros, sugiro a noite, mas confiem que para almoçar este Bistro é uma boa escolha com uma carta fabulosa e cosmopolita.

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Aqui a esplanada emboca na estrada e o movimento é interessante. Este é o local ideal para se render às modas, como beber um bom gin de algumas das melhores marcas do mercado, já que o In&out tem um dos melhores bares de Gin da região ao som de boa música e gente gira.

O verão pede-nos para ir para a rua e as esplanadas são o local ideal para descomprimir ou para nos divertirmos.

Agora deixo-lhe o desafio, diga-me qual a sua esplanada favorita!

BFM

Paremos para um Folgosinho de ar!

Subimos a Serra por entre estradas sinuosas, envoltas numa paisagem deslumbrante. Paramos para um Folgosinho de ar.

Pelo caminho, em dias solarengos, conseguimos que o nosso olhar alcance terras do Douro.

Continuamos a nossa viagem, passando por uma ou outra aldeia no sopé norte da Serra da Estrela. Gouveia já ficou para trás e ao fundo podemos ver Fornos de Algodres e Celorico da Beira. Somos forçados a parar, a estrada foi invadida, afinal por aqui o trafego por vezes é intenso, e as ovelhas têm prioridade nestes caminhos.

Conduzidas por um Pastor de capa ao ombro que, mesmo em dia de calor, a segura por uma mão calejada enquanto que a outra palmeia o caminho com ajuda de um cajado que, a par de um ou dois cães de raça Serra da Estrela, lhe faz companhia durante os dias e o ajuda a conduzir o seu rebanho pelos pastos da Serra.

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Chegamos ao nosso destino. Uma pequena aldeia na Serra. Os caminhos são estreitos e um dos primeiros edifícios que nos acolhe é a Igreja Matriz. Pequena e singela, humilde na traça mas calorosa em fé. Envolvida por um Adro onde as pessoas da aldeia se encontram e passam parte do seu dia, este Adro é a sala de estar do povo, rodeado de árvores frondosas que proporcionam uma apetitosa sombra em dias de calor, e mesmo despidas no Inverno, ornamentadas de neve, este pequeno espaço central na aldeia é o local mais convidativo e onde todos os caminhos embocam. Passamos o Adro e vemos a capela que acolhe os santos e as almas.

Todas as aldeias têm a sua capela, faz parte das suas gentes e tradições e é por causa dela e da sua Santa que todos os anos, no primeiro fim-de-semana de Setembro a aldeia se veste de festa e durante três dias.

Os filhos desta terra reencontram-se entre abraços de saudade e orações de fé. A Nossa Senhora do Socorro ajuda os seus filhos e estas gentes agradecem-lhe, pelas mãos de cada geração, com uma celebração que, mais que de fé, é de reencontro.

Seguimos pelos caminhos, numa espécie de altar, como que a velar por todos os que por estes lados passam, está uma espécie de Posto de vigia, O Castelo. Pode não ser um Castelo ostensivo, com grandes torres ou muralhas, mas defendeu estas terras dos mouros e protegeu as suas gentes dos ataques do inimigo.

Reza a lenda que nestas terras nasceu Viriato, o destemido lusitano. Anos mais tarde a terra terá sido visitada por El-Rei em pessoa, não se sabe ao certo de D. Afonso Henriques se o seu filho D. Sancho I. Mas seja como for, a aldeia no meio das pedras terá sido visitada pela mais alta figura nacional, que aqui terá descansado, aquando das suas batalhas com os mouros, bebido das águas puras de uma fonte que terá nascido milagrosamente, e nesta aldeia terá dito aos seus soldados para tomarem um Folgosinho do ar mais puro que encontrara.

O Castelo, posto de vigia, ou miradouro, permaneceu por cá, já não defende as gentes lusas, mas proporciona a quem o visita, vistas únicas, uma paisagem que de tão deslumbrante nos tira o ar, e nos força a tomar um Folgosinho.

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Esta é uma aldeia de fortes costumes, com uma história secular riquíssima, sendo que durante séculos fora uma das principais povoações do reino. Por cá passaram reis, senhores da corte e conspirações já no séc. XX.

Hoje passam por cá turistas. Milhares de turistas durante o ano. Será, a par de aldeias como o Sabugueiro ou o Piódão, a aldeia mais visitada da Serra da Estrela. Não apenas pelas suas casas de pedra, ou as suas ruelas irregulares, pelo seu Castelo, ou pelas paisagens deslumbrantes, mas por um local que começou como uma pequena tasca. Nesta pequena tasca, comandada pelas mãos do Sr. Albertino e da Sr. Emília, os petiscos gastronómicos da Serra ganharam louvores tais que cá acorrem, a este que agora já não é uma tasca, mas um verdadeiro empreendimento de Turismo Rural, mais conhecido pelo seu Restaurante, “O Albertino”, milhares de pessoas ao longo de todo o ano. Imortalizado pelos seus cinco pratos que fazem as delicias dos visitantes.

Aqui a gastronomia serrana é rainha e os produtos locais são uma prioridade.

As receitas têm muitos anos, mantendo-se praticamente inalteradas e confecionadas por gentes de cá, que lhes conhecem os segredos. Não é luxuoso “O Albertino”, mas também não é luxo que os visitantes procuram, aqui o que se quer é aquilo que se recebe, genuinidade, sabor e muita simpatia, à boa maneira beirã.

No final do repasto composto por cinco pratos o melhor mesmo é caminhar pela aldeia, comecemos por fazê-lo a pé, para ajudar a fazer a digestão, e se nos dias mais quentes não adormecer numa sombra, ou se no inverno não se refugiar à lareira de uma das casas de turismo rural que aqui existem, deixe-se levar pelas ruas, na companhia de alguns cursos de água que serpenteiam por lá, delicie-se com as muitas fontes que por aqui existem, e reflita nos seus dizeres. “Água e mulher só boa se quer”, “Oh Fonte dos limos verdes, que me dera a tua sina, és velhinha e nunca perdes o teu palrar de menina”, estes são apenas alguns dos dizeres que encontrará nas fontes da aldeia.

Se se sentir capaz de aventuras aconselho a que pegue no carro e se embrenhe na serra. Suba pelas estradas que levam à parte desabitada da aldeia. Aqui a Serra da Estrela irá desvendar-lhe paisagens deslumbrantes onde se quererá perder.

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Folgosinho é uma das aldeias mais conhecidas da Serra da Estrela, e quem a visita sabe porquê.

Não é apenas pelas paisagens nem pela boa comida. É pela senhora de lenço negro que se deixa aquecer pelo sol no Adro. É pelos velhotes que jogam às cartas frente ao restaurante. É pelas ovelhas acompanhadas do seu pastor e do seu fiel amigo. É pela bucólica paz que a envolve, pelas suas tradições e pelas memórias que guarda e que proporciona.

Pode estar a ficar despovoada de quem a cuide durante os dias, mas enche-se de calor com os seus filhos que todos os anos retornam e que teimam em fazer com que a sua alma perdure mais uns séculos, e ao fim-de-semana, seja de verão seja de inverno, enche-se de gentes que vêm de todos os cantos do país, e não só, levando as suas lendas e espalhando-as por todas as partes, levando os seus sabores e ansiando voltar o quanto antes. E mesmo que a subida seja dura, sabe-se que aqui, no alto da serra, numa terra construída no meio das pedras brancas, se poderá sempre tomar um Folgosinho de ar!

Fotografia: Manuel Ferreira Fotografia