Rudolfo Queirós, O homem por trás do vinho
Falar de vinho já não é o que era há uns anos atrás, não que fosse tido como uma bebida vulgar, muito pelo contrário, já os romanos veneravam o vinho e é, provavelmente, depois da água, a bebida mais importante no mundo.
É sustento de muitos e está culturalmente integrada na história da humanidade. No entanto nos últimos anos o vinho começou a ser encarado de modo mais especial, seja pelos consumidores, seja pelos produtores. O vinho é um dos motores económicos mais importantes do país que não vê apenas o vinho do Porto como a pérola vínica nacional, estando a apostar fortemente noutros vinhos, e Portugal é riquíssimo é bons vinhos, todos com personalidades diferentes. Provavelmente o vinho será o melhor representante da alma das gentes lusas, cada região tem o seu clima diferenciador, tem culturas e costumes diferentes, comidas e pronúncias singulares, assim como os vinhos que produzem.
Se nos últimos anos Portugal tem surgido nos mercados internacionais com vinhos notáveis, arrecadando prémios nos certames mais importantes a nível mundial não é por acaso. A grande responsabilidade do sucesso dos nossos vinhos, e o facto de serem vários a conquistar o estrangeiro é, não apenas dos produtores e do aperfeiçoamento dos métodos, mas também dos enólogos e da sua paixão pelo vinho e pelas suas vicissitudes.
Enologia é a ciência que estuda tudo o que está relacionado com a produção e conservação de vinho, desde o plantio, escolha do solo, vindima, produção,envelhecimento, engarrafamento e venda e o Enólogo é a pessoa por trás desses processos.
É na sua sensibilidade que está o segredo dos bons vinhos.
Há uns 15 anos atrás a região das beiras era conhecida pela sua gastronomia mas não pelos seus vinhos, tidos como vulgares, muito por falta de conhecimento das exigências do mercado. E foi há cerca de década e meia que Rodolfo Queirós desceu das regiões do vinho verde para a altitude da Serra da Estrela. Animado por um amigo lá se aventurou e acabou por se apaixonar pela região e pelas oportunidades de desenvolvimento profissional que aqui encontrou. Não havia grande tradição vínica na região e os produtores eram poucos. Durante cerca de uma década Rodolfo foi descobrindo os segredos da região e da natureza singular destas terras e ajudou a que se desenvolvessem vinhos que hoje são cartão de visita da região, tanto a nível nacional como além-fronteiras.
Desde jovem que Rodolfo Queirós sabia que queria construir uma carreira relacionada com o vinho e, após um desvio temporário e até mais rentável monetariamente, decidiu dar ouvidos ao coração e abraçar a oportunidade de trabalhar naquilo que sempre quis, na construção de bons vinhos. Reconhecendo a importância vital que um enólogo tem na criação de um vinho, Rodolfo mantem-se humilde quando fala da sua profissão, vincando sempre o papel fundamental do produtor no processo, mas admitindo que a arte é daquele que trabalha com paixão, gosto e com horizontes abertos.
Ao longo destes anos em que apostou na elevação dos vinhos das Beiras, trabalhando com produtores e Associações, Rodolfo Queirós teve a oportunidade de assistir ao desenvolvimento da área vitivinícola na região.
Com o crescimento dos produtores a ser notório e a qualidade das produções a ser atrativo para que grandes produtores de outras regiões reconheçam o potencial da região e apostem aqui, fazendo com que a economia se desenvolva ao ponto de se estar a tornar numa das peças mais importantes do desenvolvimento socioeconómico da região, até porque o vinho atrai gente e proporciona o crescimento de outras áreas como o turismo ou a restauração.
“Esta é uma região com características únicas e temos de saber tomar partido disso”, afirma o Enólogo que me conta que as Beiras é um dos locais privilegiado para a produção Biológica por causa das suas características geográficas e climáticas, “este tipo de cultura está na moda, temos de tomar partido disse”, refere. Entremos então na moda e apostemos nas nossas culturas. Não tenhamos medo de encarar o vinho com paixão e fazer dele uma bandeira da região, adotando o vinho como um dos cartões de visita da nossa cultura no estrangeiro. “Neste momento estamos a exportar cerca de 1 milhão de garrafas para o estrangeiro” conta Rodolfo, o vinho assume, assim, um peso brutal na economia regional, e cabe também às pessoas valorizarem os seus produtos.
Rodolfo conta que fica aborrecido quando chega a um restaurante da região e lhe oferecem vinhos Alentejanos,
“temos de dar valor ao que temos e mostrar esses produtos porque há gente de fora a visitar a região e devemos dar a conhecer o que é nosso, e há mais do que queijo para mostrar”. Dou-lhe toda a razão. Na nossa conversa, Rodolfo dizia-me que está determinado em terminar com um dos preconceitos que a nossa sociedade tem em relação ao vinho e à comida, “o vinho verde não é só para acompanhar o peixe ou o tinto ideal para acompanhar carne, há vinhos tintos que casam muito bem com o peixe e as pessoas têm de abrir os seus horizontes”! demonstrar isso mesmo é um dos seus objetivos quando dá formação.
Mas a mentalidade do consumidor está a mudar, uma das grandes alterações no comportamento está, por exemplo, no facto de as mulheres, que tradicionalmente estavam afastadas do mundo do vinho, começam a despertar o interesse para o universo vínico, sendo presença assídua nas formações dadas pelo enólogo que enaltece essa realidade.
O vinho é um ser mutável, está em constante mutação mesmo depois de engarrafado. Muda com o passar do tempo e é caprichoso, daí que Rodolfo Queirós admita ser impossível definir o que seria, para si, o vinho perfeito, “o vinho é um desafio constante e o que interessa é despertar os sentidos, o vinho perfeito é aquele que é feito para ser partilhado, aliás é a única bebida que só faz sentido se for partilhada”.