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O Serra da Estrela é mais que um cão

É o melhor amigo do homem. Tem quatro patas, uma cauda e muito pelo. A energia deles parece inesgotável e têm o dom de alegrar o dia de quem não prescinde da sua companhia. Os latidos e uivos noturnos são um mal menor para quem sabe que o amor de um cão é para toda a vida.

Na Serra da Estrela há uma raça muito especial de cães.

Animais que são o exemplo perfeito desse dito que afirma que o “cão é o melhor amigo do homem”.

O Cão Serra da Estrela é mais que um amigo, é um compincha fiel, um companheiro que ajuda a que os longos dias dos pastores na Serra sejam mais fáceis de suportar. Um amigo que ajuda no trabalho e que com afinco e dedicação ajuda os pastores a controlarem os rebanhos. São animais resistentes de personalidade e meiguice forte. Crê-se que esta raça descenda dos antigos mastins do Tibete, tendo com o decorrer do tempo, adequando-se às necessidades de guardador de rebanhos nesta região montanhosa.

No próximo sábado decorre, no Cartaxo, o 1º Encontro Global do Cão da Serra da Estrela, num evento que pretende juntar criadores, comunidade científica e público em geral, num dia dedicado a esta que é uma das raças caninas mais antigas da europa. Este encontro contará com várias atividades como oficinas, uma mostra canina, palestras, tertúlias, concurso de fotografia, entre outras atividades.

Há já um portal dedicado ao Cão Serra da Estrela, em www.caoserradaestrela.net, onde se pode encontrar diversa informação acerca desta raça de instinto protetor e fidelidade ao seu dono.

O cão Serra da Estrela é um animal tranquilo, pouco excitável, embora mais enérgico e agitado quando é jovem. É um excelente cão de guarda, muito vigilante e sempre alerta.

Nos seus genes está a necessidade de liberdade, imposta pelos anos a guardar gado na vasta serrania, por isso pode ser um cão teimoso e muito independente, possuindo uma inteligência notável e, por isso, é fácil ensiná-lo.

Quem tem um cão Serra da Estrela fala da sua meiguice, reconhecendo que é um animal dócil, afetuoso e brincalhão, sendo paciente e cuidadoso com crianças, idosos e pessoas frágeis ou com deficiência.

Desde 2010 que existe a Confraria do Cão Serra da Estrela cujos objetivos passam pela valorização histórica, patrimonial, cultural, social, lúdica e de trabalho desta raça, a par da promoção e divulgação do cão Serra da Estrela.

É importante preservar aquilo que é nosso, e o cão Serra da Estrela é uma raça especial, por isso deve ser preservada.

É um ícone da região.

Quando pensamos nas imagens bucólicas da Serra é inevitável não adicionar ao quadro as ovelhas, o Pastor e o seu fiel ajudante. Não é estranho passearmos pelas aldeias desta Serra e vermos estes amigos de quatro patas pelas ruas, com ou sem ovelhas, alguns a gozarem os seus anos de “reforma”, deitados a desfrutarem dos raios de sol no inverno.

Os habitantes das aldeias reconhecem os seus cães e tratam-nos como habitantes da terra. É esse o carinho e o respeito que as gentes daqui têm por estes animais. São mais que cães são, verdadeiramente, amigos!

 

Fotografia: Manuel Ferreira

 

 

Conheça Almeida, a Estrela do Interior

Chamam-te a Estrela do Interior, por causa da tua forma.

Os árabes chamaram-te, devido à tua localização em planalto, Al-Mêda (a Mesa). Foste quartel general de batalhas pela guarda da Fronteira. Uma máquina de guerra adaptada para nos defender dos invasores que surgiam além-fronteira, dos lados de Espanha e que queriam subjugar a nação aos seus domínios. Foste e és Almeida.

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Conheci-te num dia frio de Primavera.

Um daqueles dias em que o sol apenas ilumina e não aquece.

Entrámos por uma das tuas portas duplas, já não sei qual, mas lembro-me que me deslumbraste. Não tinha noção do quão bonita Almeida é.

Caminhámos pelas tuas ruas desertas e podemos observar os edifícios e fachadas beirãs em tranquilidade sem o reboliço das gentes. Estavas só.

Chegámos às tuas muralhas e caminhámos junto a elas. Aqui começámos a perceber o porquê de te chamarem estrela.

Sei que fiquei impressionada com a tua arrumação e organização. O cuidado com o teu património salta à vista.

Chegados ao Picadeiro D’el Rey tivemos a oportunidade de ver alguns cavalos e animar os mais pequenos que corriam empolgados com tanto espaço por onde libertar a imaginação.

Saídos, subimos à tua muralha e caminhámos apreciando a paisagem que te rodeia.

Contámos ao miúdos parte da história das tuas batalhas que, depressa, começaram a recriar.

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Seguimos caminhando, porque Almeida entre muros conhece-se andando, chegámos às Casamatas/Baluarte de S. João de Deus. No interior encontra-se um vasto complexo construído de 20 compartimentos abobadados e com cobertura megalítica, única no seu tipo. Contam-nos que serviram de refúgio à população quando a Praça-forte era atacada. Hoje é um Museu onde podemos conhecer melhor a história das Batalhas que aqui tiveram lugar.

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Almeida é muito conhecida por causa das invasões francesas, mas as suas histórias de luta remontam a um passado bem mais distante do que aquele em que Napoleão andou por este mundo.

Em Almeida ainda há vestígios do seu castelo cuja origem, se supõe, seja de fundação muçulmana ou leonesa. Presume-se que o segundo castelo tenha surgido antes do reinado de D. Dinis, de estilo gótico e um dos mais pequenos da zona fronteiriça.

São muitos os teus atrativos. Recordo um dos mais impressionantes, nestas coisas da arquitetura militar, onde te destacas no mundo, o Revelim Doble, de estrutura dupla (daí o nome), considerado um dos baluartes mais perfeito por cobrir todos os flancos. Aqui acabaram por construir um Hospital de Sangue devido ao número elevado de feridos que ocupavam a cadeia e a casa da câmara.

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És cheia de histórias para contar, e não é difícil imaginar as disputas que aqui tiveram lugar.

És um livro a três dimensões, e por isso fazes parte do Roteiro das Aldeias Históricas.

Voltarei no final de agosto para assistir a um dos maiores eventos nacionais no que toca a recriações históricas.

Serás invadida pelos franceses e irás lutar para te defender durante 3 dias, recordando o que aconteceu entre 15 e 28 de agosto de 1810. Tenho a certeza que, desta vez, não serão apenas os mais pequenos a embarcarem na viagem pela imaginação.

Sei que foste campo de batalha, palco sangrento de disputas. A tua arquitetura foi feita com esse propósito e hoje encontrei-te em paz, longe dos dias de tormenta, morte e medo. Encontrei-te tranquila, deserta e silenciosa, mas convidativa. Voltarei de certeza com a esperança de te ver cheia de gente, porque esta Estrela do Interior merece ser visitada, apreciada e vivida!

Tânia Fernandes