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Convento do conforto

Aqui, em Belmonte, onde as terras são batizadas de esperança, há um lugar, um convento, onde somos acolhidos com a simpatia e afago de quem nos recebe na sua casa, como se sua, efetivamente, fosse.

Aqui sentimo-nos confortáveis, e mesmo tratando-se de um convento transformado em Pousada, a austeridade e o rigor religioso há muito que não se sente por estas bandas.

Estamos na terra de Pedro Alvares Cabral, que destas terras frias saiu rumo ao outro lado do mundo, descobrindo o quente Brasil. Belmonte é local de lendas e histórias. Terra que viu muitas culturas, assistiu a muitos rituais e se encheu de alma com essas gentes, tão diferentes entre si, e que tornam este local tão especial.

A Pousada Convento de Belmonte carrega nas suas pedras o peso da história, num edifício que remonta ao séc. XIII, numa arquitetura em anfiteatro, na encosta da Serra da Esperança, que nos abre os horizontes para o Vale do Zêzere e para a Serra da Estrela.

Exterior

Entrados na Pousada é como entrar num lar acolhedor, sensação conseguida não apenas pelo calor da hospitalidade beirã, mas pelo próprio edifício em si que não conserva a austeridade de outrora, apesar de se notar que se respeita as suas origens.

A sensação acolhedora está na pedra, na madeira, no vime e no ferro, assim como nos pontos de luz existentes. A simplicidade dos materiais e a decoração escolhida com zelo, para casar na perfeição com os tons claros e relaxantes de ocre, verde seco, areia, terra e fogo. Aqui a tranquilidade impera, como se espera numa Pousada de montanha, vive-se e respira-se paz.

Sala estar - Capela

Apesar do conforto conseguido com a recuperação estética da Pousada, quem por cá passa não se esquece que este edifício carrega o peso da história nas suas estruturas e sobre as suas fundações está a religião, relembrada através de alguns pormenores como o nome dos de cada um dos 24 quartos existentes na Pousada, nomes de Frades, distintos, sendo a suite conhecida pelo Guardião, nome que se dava ao detentor do Convento.

Quarto Suite

Os quartos são muito acolhedores, lembrando-nos em pequenos pormenores que estamos na Serra, seja na pedra, ou nos detalhes de madeira ou ferro. Dá vontade de por cá ficar a viver!

No Inverno é um local deliciosamente acolhedor, ideal para uma escapadinha romântica ou para uns dias de introspeção. É também indicado para famílias, e no verão a piscina é o local certo para passar umas horas de lazer com uma paisagem magnifica como cenário.

Falemos da comida. Não que haja muito a dizer. Esta é mais uma Pousada do Grupo Pestana e, à semelhança de outros empreendimentos do grupo, respeita-se muito a questão da gastronomia baseada em produtos locais e, claro está, o chef Valdir, que coincidência, ou não, veio do Brasil para a terra de quem descobriu o seu berço, e que mesmo apesar das suas origens mais tropicais, respeita e dá-nos a oportunidade de saborear iguarias maravilhosas confecionadas com produtos locais. Falo do Capuccino de cogumelos com espuma de ervas aromáticas do jardim do Convento ou o Bacalhau lascado em tibórnia de presunto serrano, tomates marinados e ovo a baixa temperatura . Aliás, posso recomendar que visitem o restaurante, mesmo que não pretendam pernoitar na Pousada, se bem que se poderem fazer as duas coisas, esta é o tipo de dobradinha que vale a pena fazer!

pousada belmonte cafe

Toda a Pousada Convento de Belmonte tem pequenos recantos e pormenores que nos prendem o olhar.

A palavra que utilizo para este local é a palavra conforto. Em todos os detalhes, seja nos materiais, na decoração ou na luz das suas salas e quartos, somos invadidos por essa sensação de conforto, talvez porque não seja demasiado moderno ou cosmopolita, nem muito rural ou pitoresco. Conseguiram encontrar o equilíbrio perfeito entre dois mundos e por isso é tão especial.

 

 

 

 

Belmonte já tem Festival de Cinema

A preservação da nossa cultura é essencial para a formação de um povo, e a cultura e tradições devem ser encaradas como extensões da alma das nossas gentes e que, infelizmente, começam a ser esquecidas ou negligenciadas por muitas pessoas por considerarem que se trata de atividades antigas e sem interesse para quem se considera moderno ou cosmopolita.

No entanto, e ainda bem, existem pessoas que respeitam as manifestações culturais e tradições das suas gentes e procuram encontrar meios de transmissão dessas mesmas culturas e tradições, contribuindo para a sua divulgação, promoção e preservação.
A exemplo disso, decorre até dia 11 de abril o Festival de Cinema Etnográfico de Belmonte. Esta é a primeira edição do Festival e conta com a colaboração da Universidade da Beira Interior e com o apoio da Apordoc e da RTP.

O festival de Cinema Etnográfico de Belmonte é o primeiro do género em Portugal, e nesta primeira edição não será uma mostra de competição mas sim uma seleção de filmes sugeridos por amigos, professores de escolas de cinema, colaboradores e programadores de outros festivais.

A Galiza é o convidado oficial desta primeira edição.

Tendo sido escolhido pela sua riqueza etnográfica muito semelhante à nossa, reunindo o facto de, atualmente, possuir uma frente de jovens cineastas bastante promissores, do que já é considerado o novo cinema galego. Assim sendo, o festival conta com a colaboração de José Manuel Sande Garcia, programador da filmoteca da Galiza que sugeriu um conjunto de filmes, alguns premiados e com menções em festivais como o de Cannes, Locarno, Doc Lisboa ou a Viennal na Áustria.

Para além de projeções, os espetadores terão, ainda, a oportunidade de assistir e participar em exposições, com destaque para a exposição 80 Anos 80 Imagens sobre Michel Giacometti no Museu dos Lanifícios – Covilhã e Para uma Memória de Michel Giacometti no Ecomuseu em Belmonte, assim como a um conjunto de conferências, tanto em Belmonte como na UBI, com enfoque para o tema sobre “O Novo Cinema Galego” por José Manuel Sande Garcia, a “Tradição Musical Portuguesa” pelo etnomusicólogo José Alberto Sardinha e ainda “Povo que canta, ou para que serve uma série nas vésperas de 1974” por Paulo Lima, para além de debates com realizadores, programadores de festivais e professores de escolas de cinema. Decorrerão ainda workshops sobre cinema de animação com alunos das escolas locais e música tradicional Portuguesa.

Para mais informações acerca do programa e do Festival o melhor mesmo é visitarem o site do evento em:

http://www.festivaletnocine.pt