A medieval protetora das Beiras

Conheci-te em dia de festa, com as ruas cheias de gente, num reboliço de tempos de outrora quando eras um centro de frenesim comercial com as tuas Feiras Francas.

Lembro-me de quando te vi pela primeira vez, Castelo Mendo, no alto da tua colina, como um soldado que vigia as suas gentes, protegendo-as de um inimigo que já não existe mas que te tornou fortaleza.

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Caminhámos para a tua entrada protegida por dois soldados imponentes que guardam as tuas entranhas. Pela porta estreita entrámos e seguimos pelas tuas ruas de pedra vestidas, num casario arregimentado que me deixou deslumbrada, com gentes vestidas de época medieval que nos acompanhavam e apresentavam os seus produtos.

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És Castelo Mendo, no alto da tua colina, seguimos até ao teu topo, subidas algumas escadas encontrámos, magoada pelo tempo, mas estoica, a Igreja de Stª Maria do Castelo, lá dentro vestígios do passado, com a sua pia batismal e o altar ao fundo.

Conseguimos, se quisermos, ouvir os cânticos das cerimónias que por aqui passaram, as suplicas a deus das mães e mulheres de soldados que combatiam nestas terras pela proteção do reino, o choro sufocado de donzelas que rogavam à mãe de Cristo para que os seus amados regressassem para que lhes devolvessem aquele beijo roubado.

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Ruinas que no final de um dia de sol se vestem de dourado antecipando, aos visitantes, a majestosa paisagem que os espera quando atravessarem a Porta do Castelinho, no topo sul da cidadela. Uma porta que, outrora, dava acesso ao núcleo mais antigo do Castelo, de características românticas e acompanhado de uma ou outra oliveira, árvore que por aqui é comum.

Passados pela porta, caminhamos mais um pouco e o que nos espera é de cortar a respiração.

Uma paisagem que se estende até Espanha, e nós cá no alto, num misto de imponência e pequenez, assoberbados com tamanha beleza. Aqui estamos no inicio do mundo, à nossa frente estende-se a Europa. Imaginamos o borburinho de homens medievais quando o inimigo estava no seu encalce, lá em baixo.

Acordo desta viagem no tempo, pelo pensamento e pela imaginação, com pregões de atores que correm pela envolvente da Igreja. Estamos em plena Feira Medieval e, este ano, o sol fez-nos companhia, é Primavera, estamos em abril e tudo à nossa volta ganha vida.

Hoje Castelo Mendo recupera as memórias de outrora, enche-se de gente e de vida, música, cor e pregões. Amanhã voltará ao silencio , esperando que os seus regressem no verão para que as ruas voltem a cantar.

Castelo Mendo faz parte do concelho de Almeida e integra as Aldeias Históricas.

Na fronteira com Espanha este foi um dos principais pontos de vigia e defesa da nação, história que lhe está impressa nas pedras que ladeiam as ruas e as casas. Tal como nas outras aldeias históricas, Castelo Mendo está envolta em mistério, numa beleza hipnótica que nos faz curvar aos seus fantasmas.

O dia terminou, de Espanha vinha o céu negro que ameaçava ruir sobre nós, fomos embora. Para trás ficava a Festa maior de Castelo Mendo. Voltarei outro dia.

 

Tânia Fernandes

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