Há contrabando na Raia

Estamos em pleno Estado Novo, Salazar comanda Portugal com mão de ferro e o povo sente as agruras de uma ditadura que não entende e não aprecia, deixando-se, aparentemente, seguir na corrente comandada pelo Sr. Professor sob desígnios falaciosos que promoviam a nação como um jardim à beira mar plantado, onde viviam pessoas de brandos costumes, tal era o pacifismo em que Portugal se encontrava.

Portugal não era um paraíso e o povo, pelo menos a sua grande maioria, viva na miséria, numa constante austeridade que promovia o desapego e a frugalidade, como se fosse possível, naqueles tempos, viver-se de outra forma. Nasceu o contrabando.

Esse povo de brandos costumes, aparentemente votado a uma mecânica aceitação dos desígnios do regime não era assim tão brando nos seus costumes. Os habitantes da raia sabem do que falo. Pela frente humildes portugueses resignados com a sua vida e por trás peritos na arte do contrabando, que ocorreu até a década de 1960 e que consistia na importação e exportação de mercadorias de forma ilegal entre os habitantes lusos e espanhóis contribuindo para a melhoria das suas condições de vida.

Agora estamos em 2015, não há ditadura e quanto à austeridade, bem, essas são contas de outro rosário, o contrabando também se faz de outra forma, mas como faria você para chegar a Espanha sem ser apanhado pela Guarda Fiscal em 1950? É este o ponto de partida de um jogo lançado recentemente, inspirado no contrabando que se fazia nas zonas do território do Côa: Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta, Mêda, Mogadouro, Pinhel, Sabugal, Torre de Moncorvo, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa.

contrabando

Da autoria de Hugo Morango e editado pela Associação de Territórios do Côa, o jogo “Contrabando – Vale do Côa” pretende ser um tributo aos homens e mulheres destes concelhos raianos que enfrentaram muitos perigos para conseguirem melhorar as suas vidas e as dos seus e foi feito com base nos testemunhos de muitos daqueles que viveram na pele a experiência de contrabandista.

Não é um jogo para meninos.

É um jogo para gente crescida devido ao seu grau de dificuldade e complexidade que exige uma leitura pormenorizada do manual e táticas de estratégia, não fosse este um jogo de estratégia. Indicado para maiores de 12 anos, o Jogo “Contrabando – Vale do Côa” tem arrancado largos elogios e pretende ser, mais que uma ferramenta lúdica, uma ferramenta pedagógica para que as gerações futuras não se esqueçam do passado dos seus pais e avós que viveram na pele a época onde o contrabando era fonte de rendimento de muitos e onde a fuga à Guarda Fiscal e aos carabineiros requeria muita estratégia e coragem.

Jogo tabuleiro Contrabando – Vale do Côa from hugo morango on Vimeo.

O contrabando tem uma carga negativa mas foi, de facto, muito importante para as gentes da raia, já que não dava para viver da agricultura e era necessário sustentar as famílias. O proveito era maior que o risco, ou pelo menos, a fome suplantava os riscos e à noite lá se formavam vários grupos de pessoas que arriscavam a pele e a liberdade para conseguir passar alguma coisa na fronteira e ganhar uns dinheiros. Essa memória está agora eternizada num jogo de tabuleiro que promete reviver tempos idos! Este jogo está disponível nas Instalações da Territórios do Côa e em breve estará à venda em alguns dos Municípios do Distrito da Guarda.

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